2008
Desde 2003, o CineEsquemaNovo é reconhecido como uma das primeira mostras do País a derrubar a distinção formal entre formatos, mídias e gêneros audiovisuais, promovendo legitimidade e a autonomia destes processos cinematográficos de modo simultâneo.
O CEN, como também é conhecido, traz à tona a renovação audiovisual proporcionada pelos acessos às novas tecnologias e pela mistura de gêneros que, quase sempre, marca a produção brasileira contemporânea. Mais uma vez integrando gerações de criatividade, o CEN 2008 acontece entre s dias 11 e 17 de outubro, no Centro Cultural usina do Gasômetro, no Cine Santander Cultural e em universidades (ESPM, PUCRS, Ulbra e UFRGS).
Graças a estas crenças e desde a sua primeira edição o CineEsquemaNovo pode exibir, em uma mesma sessão, um curta abstrato em plano-seqüência em DV; um novo curta de ficção em 35mm; um trabalho de pesquisa nos arquivos históricos do cinema nacional em 16mm; uma animação psicodélica com os últimos recursos tecnológicos em Beta Digital; um documentário etnográfico repleto de poesia finalizado em HD; montagens fotográficas transformadas em imagem em movimento; um curta rodado em VHS com estética intencionalmente pesada pra ser ‘trash’; ou, enfim, o que surgir de surpreendente, inovador, criativo e experimental. O que interessa sempre é a busca, a força da idéia, e o modo com o qual se expressa na tela.
Sete mostras e sessões compõem a grade de programação do festival esse ano. As mostras competitivas trazem a Mostra de Longas-metragens (ML), a Mostra de Curtas e Médias (MC) e a Mostra Sala de Aula. Já as mostras não competitivas são compostas pela Mostra Mão Dupla (MMD), Mostra da Meia-Noite (MN), Mostra Filme em Minas (MFM) e as Sessões Internacionais (SIN).
A principal novidade do CineEsquemaNovo 2008 é a ampliação do espaço para os longas-metragens. Agora além de um maior número de selecionados – seis filmes -, os longas passarão a ocupar a programação noturna do festival em sua principal sede, juntamente com curtas e médias.
Esta decisão é resultado de uma evolução natural do CineEsquemaNovo e do contexto da produção audiovisual do País. O que acontece hoje com os longas é semelhante ao que acontecia com os curtas em 2001, quando o conceito do festival surgiu pela primeira vez nas conversas entre seus organizadores.
Há, atualmente, um volume de produções inovadoras, surpreendentes e autorais com longa duração, ao mesmo tempo em que faltam janelas de exibição e debate destas iniciativas – tanto em festivais quanto no circuito comercial. De 2001 até o primeiro CEN, em 2003, o cenário era exatamente o mesmo para produção de curtas, hoje muito mais integrada à mídia e às novas janelas de exibição se comparada a um cenário recente de exclusão e desinteresse. Para completar este contexto, é importante reparar que muitos diretores exibidos e premiados pelo CEN em edições passadas avançam agora para os longas, completando um ciclo que não passa despercebido pela organização do CineEsquemaNovo. Um exemplo deste notável movimento são os 68 filmes inscritos para seleção nesta categoria.
A Mostra de Curtas e Médias segue com sua permanente relevância dentro do festival, exibindo 36 filmes entre 938 inscritos para seleção este ano. Boa parte deste recorte produzida em meses recentes de 2008, revelando a vitalidade de uma produção cada vez mais diversificada e democrática, nos sentidos mais distintos que estas palavras possam ter entre si. E como sempre, fomentando a base deste processo criativo, o panorama competitivo do CEN se completa em 2008 com a Mostra Sala de Aula, que exibe o que de melhor vem sendo produzido em universidades, cursos, escolas e oficinas de cinema pelo País.
A relação e a tensão entre o cinema e outras formas de arte, uma questão presente e defendida pelo CineEsquemaNovo desde a sua primeira edição, também ganha mais espaço este ano na Mostra Mão Dupla, principal atração entre as programações não competitivas. A idéia original da MMD pertence a Gelson Radaelli: artista dedicado ao desenho e a pintura e residente em Porto Alegre, Radaelli é o criador da imagem que ilustra o CineEsquemaNovo 2008.
Esta retrospectiva especial, montada pelos curadores Gabriela Motta e Fabiano Souza e sediada com exclusividade no Cine Santander Cultural, exibirá obras que descrevem o passado e o presente desta aproximação histórica do cinema com as artes. Tratam-se de diferentes programas que celebras a inventividade aplicada à imagem do começo do século 20 até os dias de hoje.
Como dizem seus curadores, “a mostra Mão Dupla busca evidenciar os caminhos que bifurcam quando artistas de sensibilidades gêmeas, mas que trabalham com poéticas distintas, riscam seus fósforos criativos e concebem uma obra única e plural a um só tempo. Aqui, o imã que junta todos os estilhaços de sensibilidade é a imagem. Em torno dela gravitam cineastas, videastas, escritores, músicos, performers, artistas visuais e gente que é tudo ao mesmo tempo agora. Mão Dupla é tudo agora, porque junta TV – cinema – vídeo – clipe – performance. E agora faz questão de visitar o ontem e projetar o amanhã, todos convivendo no coração da invenção plantada pelo diálogo.
A Mostra Filmes em Minas também merece destaque: ela traz para as telas de Porto Alegre um modelo de desenvolvimento das indústrias criativas que merece atenção, não apenas por ser bem-sucedido, mas principalmente pó gerar obras de interesse inconteste. Sua programação é composta por produções viabilizadas pelo edital homônimo de fomento à produção audiovisual, mantido pelo poder público de Minas Gerais através de seu programa de isenção fiscal para o setor. Livres da neurose da viabilidade comercial e dos interesses imediatos dos patrocinadores, muitos destes filmes são bons exemplos de criação autoral integrada ao sistema das artes, tanto através das políticas públicas de desenvolvimento audiovisual quanto dos interesses das empresas que se utilizam dos recursos de leis de incentivo.
Como tradicionalmente acontece as Sessões da Meia-Noite continuam no CEN 2008, atraindo seu público cativo com produções fora de competição, convidadas pelo festival ou realizadas por pessoas envolvidas com a sua organização.
E é dentro deste contexto que o festival apresenta outra novidade este ano, e que chega pra ficar: as Sessões Internacionais. Tratam-se de filmes especialmente convidados pelos organizadores do CEN e que trazem a contribuição de realizadores de outras partes do mundo a respeito de questões caras às crenças do CineEsquemaNovo: a produção independente, a pesquisa em formatos narrativos, a provocação artística e os circuitos diferenciados de exibição audiovisual.
Os Longas convidados do CEN 2008 são Loren Cass, de Chris Fuller (EUA) e Body Rice, de Hugo Vieira da Silva (Portugal). O filme norte-americano é parte integrante da programação da Meia-Noite; já a produção portuguesa será exibida antes da premiação deste ano do festival.
Em ambos os filmes, um ponto em comum: a construção de um imaginário, de um ambiente e de uma historia a partir do recorte da realidade factual. Seja na tumultuada relação adolescente na Flórida dos ANOS 1990 (Loren Cass), seja na insuspeita migração temporária de jovens da Alemanha para o sul de Portugal a partir dos nos 1980 (Body Rice), os dois longas partem de um interessante conceito de “fato histórico” para acontecerem na tela – neste caso, através de caminhos bastante distintos um do outro.
Tudo foi feito pensado para que Porto Alegre receba, ao longo de uma semana, o que há de mais instigante na produção audiovisual, em um panorama montado com cuidado – e de graça – para quem quiser ver. Que você, assim como nós, possa aproveitar ao máximo.
PROGRAMAÇÃO PARALELA CEN
Mostra Mão Dupla: Com curadoria de Gabriela Motta e Fabiano Souza e sediada no Cine Santander Cultural, a Mostra Mão Dupla exibiu uma série de obras que descrevem o passado e o presente da aproximação histórica do Cinema com as Artes Visuais. Criatividade, sensibilidade e poética permearam esta mostra que juntou TV, cinema, vídeo e performance, visitando o ontem e projetando o amanhã. Foram exibidos “Quimera”, de Tunga e Erik Rocha; “Quarta-feira de Cinzas”, de Cao Guimarães e Rivane Neuenschwander (MG); “Um Cão Andaluz”, de Luis Buñuel e Salvador Dalí (França); “Entr’acte”, de René Clair e Francis Picabia (França); “A Perna Cabiluda”, de Marcelo Gomes, Beto Normal, Gil Vicente e João Vieira de Melo Vieira Júnior (PE); entre outros.
Mostra Filme em Minas: programação composta por produções viabilizadas pelo edital homônimo de fomento à produção audiovisual, mantido pelo poder público de Minas Gerais através de seu programa de isenção fiscal para o setor. Foram exibidos nesta mostra as produções mineiras “Nos Olhos de Mariquinha”, de Júnia Torres e Cláudia Mesquita; “A Demolição”, de Aleques Eiterer, “Nascente”, de Helvécio Martins Jr.; “Paraisópolis”, de Sérgio Borges; “Mercúrio”, de Sávio Leite; e “O Crime da Atriz”, de Elza Cataldo.
Mostra da Meia-Noite: exibição de produções fora de competição, convidadas pelo festival ou realizadas por pessoas envolvidas com a sua organização, como “Arrombada – Vou Mijar na Porra do seu Túmulo!!!”, de Peter Baiestorf (SC); “Mesa de Bar”, de Pedro Nora e Tiago Ribeiro (RS); “Piknik”, de Luiz Roque e Mariana Xavier (RS); “Os Boçais”, de Lufe Bollini (RS); “Ex-votos”, de Geraldo Tavares (RS); entre outros.
Sessões Internacionais: mostra que exibiu filmes especialmente convidados pelos organizadores do CEN e que trazem a contribuição de realizadores de outras partes do mundo a respeito de questões caras às crenças do CineEsquemaNovo: a produção independente, a pesquisa em formatos narrativos, a provocação artística e os circuitos diferenciados de exibição audiovisual. Foram exibidos os longas “Loren Cass”, de Chris Fuller (EUA) e “Body Rice”, de Hugo Vieira da Silva (Portugal).
OFICINAS: Oficina de Mão Dupla – Contaminações entre Cinema e Artes Visuais: com Gabriela Motta (RS) e Fabiano de Souza (RS); Oficina de Crítica Cinematográfica: com Marcelo Lyra (SP).
PREMIADOS JÚRI OFICIAL [Bernardo de Souza (RS), Marcelo Lyra (SP), Mariana Xavier (RS), Milton do Prado (RS) e Pablo Lobato (MG)]
Prêmio especial do júri
“Pan-Cinema Permanente”, de Carlos Nader (SP)
(83min – 2008 / Captação: HDV Z1 1080i, 24ps; Hi8; Super 8; EX1 Cannon DV)
JUSTIFICATIVA JÚRI: “A vida é sonho. Sailormoon, faz de mim um instrumento do teu prazer”.
Melhor longa-metragem
“O Fim da Picada”, de Christian Saghaard (SP)
(80min – 2008 / Captação: 35 mm)
JUSTIFICATIVA JÚRI: “Filme demência que exorciza seus demônios, sem limites de tempo e de espaço. Um filme de Saci”.
Melhor curta ou média-metragem
“Espuma e Osso”, de Ticiano Monteiro e Guto Parente (CE)
(20min – 2007 / Captação: Sony Z1 – 29.97fps – DV 720×480)
JUSTIFICATIVA JÚRI: “A melancolia do Mickey Mouse em dois tempos”.
Melhor experimentação: montagem
“Anabazys”, de Paloma Rocha e Joel Pizzini (RJ)
(98min – 2007 / Captação: miniDV – câmera digital; 35 mm – formato final)
JUSTIFICATIVA JÚRI: “Experiência espacial e histórica: com coreografia de Pizzini e Paloma, dupla de montadores tira Glauber para dançar”.
Melhor experimentação: composição
“KO”, de Dellani Lima (MG)
(5min – 2008 / Captação: Avi, Mpeg, Quicktime)
JUSTIFICATIVA JÚRI: “A tela que se faz eólica mínima luz”.
Melhor experimentação: composição
“Ocidente”, de Leonardo Sette (PE)
(7min – 2007 / Captação: Sony hc7 – HDV – PAL – 25fps – 16:9)
JUSTIFICATIVA JÚRI: “Janelas possíveis, companhias para viagem”.
Melhor experimentação: dispositivo
“Sábado à Noite”, de Ivo Lopes Araújo (CE)
(62min – 2007 / Captação: HDV;Beta SP; DVD)
JUSTIFICATIVA JÚRI: “Aproximar-se do pássaro, não para capturá-lo, não para vê-lo voar, mas para dele se aproximar. Pare pra pensar, pense muito bem, olhe que esse dia já vem”.
Troféu CineEsquemaNovo (a cargo da equipe do CEN)
Luiz Carlos V. Coelho, diretor do curta “Cançó d’Amor”.
JUSTIFICATIVA JÚRI: ”Por representar uma geração que não dispunha dos mesmos meios que a atual para desenvolver uma produção audiovisual, mas que ainda assim tem tempo, idéias e disposição para mergulhar nas recentes alternativas de realização, o Troféu CineEsquemaNovo vai para o ‘Novo Cineasta Velho’, ou ‘Velho Cineasta Novo’”.
O gaúcho Luiz Carlos Coelho é pintor, atuou no filme “Cão Sem Dono”, de Beto Brant e Renato Ciasca e inicia sua carreira como cineasta.
Melhor longa metragem (a cargo dos alunos da Oficina de Crítica Cinematográfica)
“O Fim da Picada”, de Christian Saghaard (SP)
(80min – 2008 / Captação: 35 mm)
JUSTIFICATIVA JÚRI: “Pela preocupação em trabalhar com as várias possibilidades proporcionadas pela linguagem cinematográfica, o que vem ao encontro da proposta do CineEsquemaNovo; além de dialogar com influências como o Cinema Marginal dentro de uma preocupação social”.
PREMIADOS JÚRI POPULAR (NOTAS DE 1 A 5)
Melhor curta ou média-metragem
1º Lugar: “A Cozinha Maravilhosa”, de Juliano Reina (RS)
(6min40 – 2007 / Captação: animação totalmente digital)
Média: 4,247
2º Lugar: “Povo Lindo, Povo Inteligente”, de Sérgio Gagliardi (SP)
(50min – 2008 / Captação: Panasonic HVX200-29,97fps-480-mini DV-4:3)
Média: 4,182
Melhor longa-metragem
“Pan-Cinema Permanente”, de Carlos Nader (SP)
(83min – 2008 / Captação: HDV Z1 1080i, 24ps; Hi8; Super 8; EX1 Cannon DV)
Média: 4,704
Mostra Sala de Aula
1º Lugar: “Táxi para o Devaneio”, de Eder Augusto, Ansgar Ahlers e Dirk Manthey (SP/ALE)
(12min – 2007 / Captação: miniDV / Associação Cultural Kinoforum)
Média: 4,461
2º Lugar: “A Céu Aberto”, de Alexandre Kumpinski (RS)
(7min25 – 2008 / Captação: Panasonic PVGS320 – 30fps – 720/480 – 16:9 / PUC-RS)
Média: 4,178