Seminário Pensar a Imagem


De 12 a 15/04/21, 19h às 21h

Transmissão pelo YouTube - https://www.youtube.com/channel/UC4YhUX_47j6BgsJDqQR2zxQ

Com LIBRAS 

O seminário Pensar a imagem é realizado em diálogo com a proposta curatorial do festival Cine Esquema Novo e visa proporcionar encontros temáticos dedicados a discussões sobre questões estéticas, políticas, teóricas, conceituais, narrativas e de consumo relativas às imagens, especialmente à produção autoral e experimental. Para 2021, propõe-se como tema Repertórios e afetos: espectatorialidades e olhares opositores.

Um conjunto de fatores que incluem políticas públicas, acesso à tecnologia e popularização de redes sociotécnicas nas duas últimas décadas proporcionou a re-emergência, como corpos falantes, de diversas comunidades epistêmicas que comungam alguns objetivos comuns e ao mesmo tempo guardam suas singularidades, como mulheres, pessoas negras, LGBTQIA+ e/ou pobres. Essas comunidades, seja em suas reivindicações específicas ou nas agendas políticas compartilhadas, disputam o campo do simbólico e o direito de se narrar, numa perspectiva emancipatória que inclui demandas por ocupação de espaços, igualdade de oportunidades e a produção de suas próprias imagens, rasurando imaginários historicamente constituídos em torno desses grupos.

No campo das imagens, esse processo resulta não apenas do acesso às possibilidades de realização, mas também de uma política do olhar, do reconhecimento de suas posições espectatoriais diante de representações visuais e audiovisuais nas mídias (cinema, televisão, jornalismo, etc) e nas artes que se apresentaram, durante décadas, bastante lacunares e problemáticas.

Os afetos e sensações ambíguos oriundos desse consumo – entre fascínio e falta, o encantamento e repulsa, a conciliação e o confronto  – produzem uma posição ética que se desdobra em ação orientada ora por um olhar opositor, ora por uma prática reparativa, quando essas comunidades epistêmicas passam a trabalhar com imagens também, seja na realização, pesquisa, crítica, militância social, curadoria, preservação ou no trato com acervos.

A proposta do seminário Pensar a imagem é explorar possibilidades de exercício de olhares opositores (hooks, 2019) em relação às visualidades hegemônicas e explorar também, como possíveis práticas reparativas (Sedgwick, 2003), algumas formas de fabulação colocadas em cena por sujeitos que problematizam as relações entre estética, imagens, olhar e poder.

O seminário será realizado online e o formato é de quatro mesas, uma por noite, das 19h às 21h, cada mesa com participação de duas pessoas convidadas e da mediadora, também responsável pela concepção e programação do evento. Cada mesa terá duração de duas horas, incluindo as falas das pessoas convidadas e tempo para debate com o público participante.

***

PROGRAMAÇÃO

12/04, segunda-feira, 19h

Imagens e práticas antirracistas
Rosane Borges e Mariani Ferreira

O debate sobre a construção de um imaginário antirracista no audiovisual brasileiro tem sido levantado nos últimos anos tanto pelo campo da produção quanto da pesquisa sobre imagens. Eventos como festivais de cinema negro e iniciativas de formação que visam rasurar representações controladas e cristalizadas dos corpos negros nas diversas mídias têm trazido para o centro da discussão uma questão fundamental: que tipos de visibilidades foram historicamente construídas para os corpos negros, que nem sempre puderam se narrar ou mesmo dispor de arquivos de qualquer ordem de suas vidas, inclusive visuais? Como imaginar estéticas que humanizem personagens negras? Como descolonizar nossas narrativas e nossos olhares?

***

13/04, terça-feira, 19h

Olhares opositores na curadoria
Rayanne Layssa e Igor Simões

A partir de experiências de curadoria em cinema e em artes visuais de Rayanne Layssa e Igor Simões, a proposta da mesa é gerar uma conversa sobre, de um lado, curadorias feitas por pessoas negras e eventos específicos de audiovisual negro, discutindo a importância desses festivais, os filmes que neles circulam e as consequências da existência desses espaços de circulação e discussão de obras para a cadeia produtiva audiovisual brasileira. Do outro, trazer para o debate a noção de lugar de fala na prática curatorial, reunindo algumas produções contemporâneas que têm juntas estremecido a noção de arte brasileira. A partir dessas produções e de algumas exibições recentes e das noções de arte Afro-Brasileira, se interroga: Qual o nome da outra parte da arte do país? Seria ela Branco-Brasileira? Eurobrasileira? Como esses debates expõem a constituição embranquecida da noção de arte produzida nesse canto do mundo?

***

14/04, quarta-feira, 19h

Política e fabulação
Kênia Freitas e Vinicios Ribeiro

 Como podemos pensar as estratégias afrofabulares que os filmes da produção contemporânea do cinema negro movimentam? Essas estratégias críticas de fabulação neste cinema conseguem superar as ideias de representação e da representatividade nas imagens e sons? Esteticamente, o que marca esse processo afrofabular? Essas questões serão pensadas olhando para alguns curta-metragens do cinema negro contemporâneo e em diálogo com os conceitos de afrofabulação (Tavia Nyong´o) e fabulação crítica (Saidiya Hartman). A mesa também se dedicará a discutir a ideia de reparação, uma palavra que evoca o gesto de restaurar, restituir um prejuízo ou reconhecer o dano (que nos foi) causado. Leituras reparativas evocam a potência de olhar para imagens, sons e palavras mergulhados neste movimento de ação; assim como nos coloca a possibilidade de um olhar amoroso, que cura e repara. Se a esperança é, para Eve Sedgwick, uma forma de organizar nossos fragmentos e traumas. E para bell hooks, "nossa recuperação está no ato e na arte de amar", a conversa buscará articular reparação, cura e a potência de amar nas/pelas imagens do cinema, sob o prisma da espectatorialidade, em certos filmes brasileiros contemporâneos (2009-2020). 

***

15/04, quinta-feira, 19h

Espectatorialidades e apropriações queer das imagens
Fabio Ramalho, Márcio Reolon e Filipe Matzembacher

A mesa será dedicada ao debate sobre a apropriação de repertórios audiovisuais como procedimento que atravessa as instâncias de produção, circulação e consumo cultural. A proposta é pensar a formação de repertórios como rede de relações que conecta diferentes temporalidades e sensibilidades, além da inadequação e do desvio como elementos para pensar as práticas de apropriação queer. Um aspecto importante para a discussão é a relação do prazer e do desfrute no desvio na marginalidade e na contravenção. Como construir universos que permitam desobediência, contradição, imperfeição, pecado, pessimismo, erro e fracasso que possam ser celebrados? Como pensar, por exemplo, nos criminal queers? Como considerar a potência política de repertórios queer que podem desestabilizar, se perder e que não necessariamente precisam responder ou educar?

***

CURADORIA E PRODUÇÃO

Gabriela Almeida é professora titular do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM (PPGCOM). Integra a diretoria da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine), na gestão 2019-2021, e coordena do Grupo de Pesquisa Estéticas, Políticas do corpo e Gêneros na Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). Integra também a Latin American Studies Association (LASA) e rede de pesquisadores e artistas Radical Film Network (RFN). É doutora em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com estágio na Universitat Autònoma de Barcelona (UAB). É autora do livro O ensaio fílmico ou o cinema à deriva (Ed. Alameda, 2018) e co-organizadora da coletânea Comunicação, estética e política: epistemologias, problemas e pesquisas (Ed. Appris, 2020).

***

PESSOAS CONVIDADAS

Fabio Ramalho é professor do curso de Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos Latino-Americanos (PPGIELA) da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). É doutor em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde desenvolveu tese acerca da apropriação e o deslocamento de repertórios audiovisuais como modos de engajamento afetivo. Realizou estágio doutoral na McGill University, em Montréal, Canadá. É um dos coordenadores do Grupo de pesquisa NATLA - Núcleo de Arte e Tecnologia Latino-Americano, e codiretor da Imagofagia - Revista de la Asociación Argentina de Estudios de Cine y Audiovisual. Ensaísta premiado no II Concurso de Ensaios Mário Pedrosa sobre Arte e Cultura Contemporânea. Membro fundador do coletivo independente de realização audiovisual Surto & Deslumbramento.

Igor Simões é professor de História, Teoria e Crítica da Arte e Metodologia e Prática do ensino da Arte (UERGS) e curador. É doutor em Artes Visuais - História, Teoria e crítica da Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGAV-UFRGS). Integra o Comitê de curadoria da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas-ANPAP, o Núcleo Educativo UERGS-MARGS. Comitê de acervo do Museu de Arte do RS-MARGS. Foi curador educativo da Bienal 12 (Bienal do Mercosul). Trabalha com as articulações entre exposição, montagem fílmica, histórias da arte e racialização na arte brasileira e visibilidade de sujeitos negros nas artes visuais. (Foto: João Lima)

Kênia Freitas é crítica de cinema, curadora, professora e pesquisadora do Afrofuturismo e do cinema negro. Realiza pós-doutorado na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e é doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atuou como curadora das mostras Afrofuturismo: cinema e música em uma diáspora intergaláctica (Caixa Belas Artes/SP), A Magia da Mulher Negra (Sesc Belenzinho/SP, 2017) e Diretoras Negras no Cinema Brasileiro (Caixa Cultural Brasília e RJ, 2017, Sesc Minas, 2018). É integrante do Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema. (Foto: Stefs Masotti)

Márcio Reolon e Filipe Matzembacher são roteiristas e realizadores de cinema de Porto Alegre. O primeiro longa-metragem da dupla, Beira mar, estreou na Mostra Forum do Festival de Berlim em 2015 e ganhou o prêmio de Melhor Filme –  Mostra Novos Rumos no Festival do Rio. O segundo, Tinta Bruta, foi premiado com o Teddy Award, também na Berlinale. (Fotos: Daniel de Bem / Lora Kihn)

Mariani Ferreira é roteirista, produtora e realizadora de audiovisual de Porto Alegre. Dirigiu o curta-metragem Leo (2014), selecionado para o Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano de la Habana, o Festival Internacional de Cinema de Guadalajara e a Mostra Cinema e Direitos Humanos no Mundo. Foi produtora executiva do documentário O Caso do Homem Errado, dirigido por Camila de Moraes, pré-selecionado pelo Brasil em 2018 para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Atuou no FRAPA – Festival de Roteiro Audiovisual de Porto Alegre como curadora do concurso de longas e é uma das curadoras e produtoras da Mostra Ela na Tela, que exibe filmes dirigidos e protagonizados por mulheres. Integra o MacumbaLab, coletivo de profissionais negros e negras do Rio Grande do Sul. (Foto: Marilin Ferreira)

Rayanne Layssa é graduanda em Cinema pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e curadora. Foi assistente de curadoria do Festival Internacional de Cinema de Realizadoras (FINCAR), em Recife, colaborou no Festival Palco Preto de Artes Integradas (PE) e na curadoria da segunda edição da Mostra Itinerante Cinemas Negros – Mohamed Bamba (BA). Foi Júri e Crítica jovem do XIV Panorama Coisa de Cinema em 2018 (BA), curadora do Festival CacheiraDoc 2020 (BA) e da programação #vidasnegrasimportam, para o Drive-In Paradiso, promovido pelo Instituto Olga Rabinovich, Secretaria Municipal de Cultura e Spcine em 2020 (SP).

Rosane Borges é jornalista, pesquisadora colaboradora do Colabor (Centro Multidisciplinar de Pesquisas em Criações Colaborativas e Linguagens Digitais), da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP). É doutora e mestre em Ciências da Comunicação pela USP, ex-coordenadora nacional do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra (CNIRC), da Fundação Palmares, órgão do Ministério da Cultura. Coordenou projeto de Educação em Comunicação e Direitos Humanos do Ceaslas (Centro de Ensino e Assistência Social La Salle); foi assessora de projetos da Congregação Scalabrinias, trabalhou na área de Comunicação e Tecnologia do Instituto Geledés, coordenou o programa de Comunicação do Instituto kuanza. A partir da Comunicação, vincula-se ao campo das pesquisas sobre raça, gênero e problemas brasileiros. É articulista da Revista Carta Capital Digital e do blog da Editora Boitempo, escreve regularmente no portal de notícias Jornalistas Livres. Integra o CORE (Conselho Internacional Reinventando a Educação), cujo patrono é o pensador Edgard Morin, e o selo editorial Aquilombô (MG). Integrou o comitê editorial de selos da editora Imprensa Oficial e da revista Caligrama (USP). Fez parte também do Conselho Nacional de Promoção de Políticas da Igualdade Racial (CNPIR) da Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (2012-2014). Possui diversos livros publicados, entre eles: Esboços de um tempo presente (2016), Mídia e Racismo (2012); Jornal: da forma ao discurso (2002), Rádio: a arte de falar e ouvir (2003), Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro (2004).

Vinicios Ribeiro é professor adjunto da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro(EBA/UFRJ). Líder do grupo de pesquisa "Formas de Habitar o Presente (CNPQ). É doutor em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ), na linha de pesquisa em Tecnologias da Comunicação e Estéticas, e Mestre em Cultura Visual pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Tem trabalhado, em suas pesquisas, com corpo, gênero, sexualidade e suas relações com as artes visuais, cinema, fotografia e cultura visual contemporânea. 

COMPARTILHE