Cine Esquema Novo 2004

2004

Os pais costumam dizer, via de regra – e naqueles momentos de maior euforia – que os filhos os enchem de preocupações, mas especialmente os enchem de orgulho. Bem, nenhum dos quatro organizadores e integrantes do CineEsquemaNovo tem filhos até o momento. Mas o crescimento e o “aniversário” de dois anos do festival certamente serviram como metáforas perfeitas para tentar compreender este processo…

Isso porque temos em mãos um ente vivo: CineEsquemaNovo 2004 – Festival de Cinema de Porto Alegre. Uma concepção de festival que virou realidade em 2003 e que, graças a isso, teve espaço real para amadurecer, enfrentar obstáculos, conhecer os perigos, descobrir os acertos e os erros… Enfim, sustentar o bom e tentar mudar o que é passível de mudança, para assim ser cada vez melhor e, especialmente, sustentar um conceito muito claro de festival.

O processo de construção desta segunda edição evidenciou os valores que efetivamente marcam o CineEsquemaNovo. E queremos deixar isso bastante explícito a você: neste catálogo, na programação, nos filmes, e em todas as interfaces que você tiver com o festival. Teremos oito mostras e programas diferentes em cinco bases de realização, com mais de 130 filmes, que você conhecerá detalhadamente ao longo deste livro-anuário. Teremos também uma programação de oficinas e debates focada na desbitolação do audiovisual, nossa defesa enquanto festival de cinema. Muita informação sobre Ruy Guerra, nosso cineasta convidado. E também sobre São Jorge e o Dragão: afinal, por que este é o símbolo do CineEsquemaNovo 2004? Você vai entender tudo isso lendo o que temos a dizer.

Mas o que o CineEsquemaNovo tem a acrescentar enquanto festival, afinal?

Filmes que apontem para novos caminhos audiovisuais, e especialmente que defendam a diversidade de formatos, bitolas e técnicas de uma produção, enquanto opção individual do diretor e seu grupo, são as intenções que defendemos para o CEN. Centrados no apoio à renovação audiovisual brasileira, valorizamos um debate definitivo, que fará parte de todos os encontros de cinema do mundo, mas que ainda não é definitivamente compreendido: a fusão definitiva da clássica e centenária película (notadamente o 35mm e o 16mm) com as novas tecnologias audiovisuais. No dia-a-dia do século 21, novos filmes são criados e exibidos nas salas de cinema, ou na casa de qualquer espectador, a partir da mistura do analógico e do ótico com o digital. Some a isso a variedade de técnicas de movimento, criadas ao longo da história do cinema e da animação… E surge diante de nós um vasto panorama sobre o futuro do conceito de cinema. É isso que queremos disseminar.

A apresentação audiovisual inscrita e selecionada para o CineEsquemaNovo contempla a multiplicidade do cinema. Trata-se de uma idéia de mistura que vai muito além da “realidade virtual” dos blockbusters ou das superproduções com efeitos especiais: desde os longas-metragens integralmente realizados em 35mm até os curtas-metragens feitos com dez técnicas audiovisuais simultâneas e diferentes entre si, ou ainda centrados na videoarte e na pesquisa narrativa, o CEN é o eco de uma produção carente de reconhecimento. As 675 inscrições recebidas de 20 Estados e 8 países (brasileiros residentes no exterior, ou estrangeiros com produção no Brasil), servem de exemplo desta realidade.

O regulamento deu liberdade para que fossem apresentadas as várias técnicas, formatos e bitolas utilizadas na realização de cada trabalho, além de espaço para que o diretor defendesse sua idéia ou conceito construído especificamente para aquela “obra”. Por isso, os filmes selecionados foram analisados com maior envolvimento, e resultaram em mostras compostas por diversos títulos que ainda não haviam encontrado espaço no circuito dos festivais.

O CineEsquemaNovo acredita que, com as novas tecnologias e equipamento, gradualmente os filmes abdicarão da capacitação pura – feita em apenas uma única bitola e formato – e aceitarão sem pré-conceitos a captação híbrida, onde a diversidade se encontra. A sugestão não é nenhuma outra senão dizer que todos os festivais terminarão por abrir Janelas para essa nova realidade. O CEN comprova, através da quantidade de inscrições, a necessidade de expressão dos realizadores através das mais diversas formas audiovisuais, fugindo de guetos ou de qualquer obrigação com categoria, gênero ou formato.

A não avaliação do formato de exibição do filme é definida pelo CineEsquemaNovo enquanto uma valorização das escolhas estéticas do artista: suas buscas visuais de texturas e de ritmos em um filme.

Esperamos que você assista, sinta, expresse, e vivencia todo este contexto para o qual ainda não há resposta, mas que é o centro das atenções por aqui: a transformação do cinema. Desbitole-se e envolva-se no CineEsquemaNovo 2004!

 

CINEASTA HOMENAGEADO

Ruy Guerra

PROGRAMAÇÃO PARALELA CEN

Mostra Ruy Guerra, com a exibição de cinco filmes do diretor: “A Queda” (1978), “Estorvo” (1999), “Os Cafajestes” (1962), “Os Deuses e os Mortos” (1970) e “Os Fuzis” (1964).

Sessões da Meia-Noite: na sala P.F. Gastal, na Usina do Gasmômetro, exibição de filmes produzidos por pessoas envolvidas no CEN ou pelos jurados e de filmes raros, que não puderam competir no festival;

Sessão Especial da Terra: exibição de filmes que oferecem diferentes leituras dos problemas do campo, como “Cantos de Trabalho”, de Humberto Mauro, “Brasília, Segundo Feldman”, de Wladimir Carvalho e “Jardim Nova Bahia”, de Aloysio Raulino, entre outros títulos;

Sessões para Escolas: exibição de filmes selecionados para o CEN em escolas do Ensino Médio;

Mostra Prêmio do Público: exibição dos selecionados para a Mostra Competitiva de Curtas e Médias na Escola Municipal Tristão Sucupira, no bairro da Restinga.

OFICINAS

“Introdução à crítica cinematográfica”, com Alfredo Manevy (RS); “Cinema e Linguagens Digitais”, com Kiko Goifman (MG) e “Linguagem Audiovisual”, com Ruy Guerra.

PREMIADOS

PRÊMIOS DO JÚRI OFICIAL [Alfredo Manevy (SP), Eugênio Puppo (SP), Gustavo Jahn (RS), Kiko Goifman (MG) e Lúcia Koch (RS)]

Troféu Melhor Plano ou Cena (curta ou média)

OS PAULISTAS INVADEM! (SP), de Régis Maximillian, Ricardo Nimitz e João Karouak

Em um filme com vários planos que se destacam, o júri decidiu pelo plano em que a cidade de São Paulo, invertida, como nuvem negra, sobrevoa atacando a cidade do Rio de Janeiro.

Prêmio Auto-retrato

CRESCI!, de Maurício Saldanha (RS)

Pela ousadia da narrativa.

Troféu Grito

KINO COPA, de Igor Cabral e Chico Serra (RJ)

Pela crônica bem humorada e ácida.

Melhor Montagem

Ricardo Machado, por GRINGO IN RIO (RJ)

Pela articulação de planos, filmados de forma despojada.

Melhor Direção de Arte

Manu Sobral, por HILDA (RJ)

Pela construção visual a partir de poucos elementos e pelo contraste entre forma e texto.

Prêmio Melhor Utilização de linguagens e técnicas de animação

PLUTÃO, de Sávio Leite (MG)

Pelo trabalho de criação a partir da manipulação dos materiais.

Prêmio de Melhor Experimentação Fotográfica

Jackson Luiz Aliprandini, por REMÉDIO PARA DOR(SC)

Pela construção do filme a partir de luz e cor.

Melhor Experimentação de Linguagem

UM MILHÃO DE PEQUENOS RAIOS, de Daniel Lisboa (BA)

Pelo forte ritmo visual e pela construção de uma coreografia a partir de imagens documentais.

Melhor Direção

Dennison Ramalho, por AMOR SÓ DE MÃE (SP)

A partir de elementos de gênero, o diretor orquestra um filme intenso e autoral.

Prêmio Especial do Júri

GRINGO IN RIO, de Ricardo Machado (PR)

Pela ambigüidade entre documentário e ficção, pela ironia e exotismo na investigação do Rio de Janeiro e pelo gosto de ressaca.

Melhor Curta ou Média-Metragem

DA JANELA DO MEU QUARTO, de Cao Guimarães (MG)

Pela síntese, sensibilidade e transcendência.

Melhor Atuação

MCs Marechal e Don Negrone do filme A BATALHA DO REAL, de Matias Maxx (RJ)

Pelo duelo genial entre os MCs.

Prêmio da Nova Crítica (curta ou média)

RATOS DE RUA, de Rafael de Paula Rodrigues (RJ)

Ao utilizar diversos suportes, o filme desenvolve o conceito proposto pelo festival, e é realizado de forma efetiva, sem usar idéias gratuitas nem subestimar o espectador.

Troféu CineEsquemaNovo

diretor Marcelo B. Conter, do filme ESTRANHOS (RS)

Pela cara dura da dupla, pelo despreendimento, pela graça, pela contribuição a um dos mais interessantes e divertidos debates, pela firmeza ao expor suas opiniões, pela sinceridade ao concordar com seus equívocos, pela criatividade de seu filme, e como aposta em um futuro promissor.

Troféu Paitrocínio

NOSFERATUM, de Gurcius Gewdner (SC)

Pelos diálogos, pelo tratamento da fotografia, e pela encenação anti-dramática.

 

PRÊMIOS DO PÚBLICO

1º Lugar

NADA A DECLARAR, de Gustavo Acioli (RJ)

2º Lugar

ESTÁ LÁ, É DO INIMIGO?, de Lobito e Jel (RJ) e FOBIA, de Thiago Moysés (DF)

3º Lugar

AMOR SÓ DE MÃE, de Dennison Ramalho (SP)

Melhor Documentário (longa)

QUEBRANDO TUDO, de Rodrigo Hinrichsen (RJ)

Troféu Sala de Aula

UMA ESTRELA PRA IOIÔ, de Bruno Safadi (RJ)

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