Cine Esquema Novo Expandido 2015

Cine Esquema Novo Expandido – Berlinale Forum 2015

Como não ser pessoal? Em um festival como a Berlinale, com tanto a ser visto, foi no recorte individual que o Cine Esquema Novo encontrou a sua curadoria, de portas abertas para as seções Forum e Forum Expanded do Festival de Cinema de Berlim. Dois órgãos independentes dentro da programação alemã, capazes de gerar pulsões audiovisuais com personalidade própria, e que foram a base da curadoria de Jaqueline Beltrame e Gustavo Spolidoro para o Cine Esquema Novo Expandido – Berlinale Forum 2015: 13 filmes e videoinstalações pinçados entre mais de 100 trabalhos assistidos.

Este projeto em específico resulta de uma parceria iniciada em julho de 2014 com o Goethe-Institut Porto Alegre e o Arsenal – Institut für Film und Videokunst e.V. e que, antes da programação deste ano, já envolveu uma residência curatorial do CEN nos acervos do Arsenal em Berlim; uma mostra deste acervo e de edições passadas do Forum / Forum Expanded no Cine Esquema Novo 2014; e o intercâmbio de cineastas e artistas visuais contemporâneos com a curadora Stefanie Schulte Strathaus em Porto Alegre, auxiliando a exibição de filmes e videoinstalações brasileiras em Berlim este ano.

A programação do CEN-E Berlinale Forum 2015 é resultado de um mergulho de 12 dias em projetos de todas as partes do mundo que, ao longo deste período de observação, tomou forma e desindividualizou-se, adquirindo a cara e o corpo daquilo que o CEN, nos últimos doze anos, tem proposto: um panorama livre e expandido para a compreensão e fruição do audiovisual. Isso deixou ainda mais interessante a exploração da diversidade proposta por um dos maiores festivais do mundo, onde o mainstream do cinema convive próximo da mais radical experiência da imagem. E é uma amostra desta última vertente que Porto Alegre recebe de 03 a 08 de Novembro (Sala P.F. Gastal e Cinemateca Capitólio); e o Rio de Janeiro, de 19 a 25 no Espaço Itaú de Cinema, dentro da Semana dos Realizadores.

A delimitação deste objeto específico de programação, reconhecido como Cine Esquema Novo Expandido, dá continuidade em 2015 a uma proposta iniciada dois anos atrás: a de oferecer um projeto bienal com um tema único, intercalado com as edições integrais e diversificadas do CEN (que incluem a Competição Brasil, seminários, programas especiais e debates). Depois de termos proposto um diálogo em 2013 (em parceria com a Bienal do Mercosul) entre a obra referencial em expanded cinema do inglês William Raban com cinco artistas brasileiros (Carlosmagno Rodrigues, Distruktur, Guto Parente, Ricardo Alves Jr. e Sérgio Borges), esta é a oportunidade de compartilharmos, como diz a própria organização do Forum / Forum Expanded, um recorte da “programação mais ousada do Festival de Cinema de Berlim: o Avant Garde, as obras experimentais, os ensaios, as observações de longo prazo, a reportagem política e as paisagens cinematográficas que ainda estão por ser descobertas”.

 

Sobre as obras

Em Porto Alegre, dia 03/11, o CEN-E Berlinale Forum 2015 se inicia na Sala P.F. Gastal da Usina do Gasômetro com o filme-pesadelo do consagrado canadense Guy Maddin, THE FORBIDDEN ROOM, exibido também no festival de Sundance, que traz no elenco Geraldine Chaplin, Maria de Medeiros, Udo Kier e Mathieu Amalric.

A partir de então, ao longo dos dias, a curadoria revela suas obras. O português João Pedro Rodrigues, de “O Fantasma” e “Morrer Como um Homem”, e João Rui Guerra da Mata apresentam um documentário investigativo com um olhar muito delicado sobre uma fábrica de fogos de artifício de Macau: IEC LONG. Na mesma sessão, a pré-estréia em Porto Alegre do longa BEIRA MAR, intimista e claustrofóbica relação dos homens e o mar dos brasileiros Fillipe Matzenbacher e Márcio Reolon.

Há uma curiosa e muito pessoal homenagem da artista da Palestina Basma Alsharif ao clássico gore “Canibal Holocausto”, de Ruggero Deodato, em A FIELD GUIDE TO THE FERNS. Já no longa LA MALDAD, o mexicano Joshua Gil constrói uma ficção a partir de histórias de seus dois avôs, que “atuam” como personagens principais.

O norteamericano Jem Cohen, de “Chain” e “Instrument” (exibido pelo CEN na mostra Zona Livre 2010 no Rio de Janeiro), traz em COUNTING o seu “Sans Soleil”: uma bela e singela viagem de um homem só baseada em um íntimo olhar através da câmera. Enquanto que FREIE ZEITEN (After Work), da alemã Janina Herhoffer, propõe um documentário que pode ser assistido de olhos fechados, para tanto aproximar-se dos personagens (uma banda de garotas e um grupo de Yoga) quanto do seu caráter músico-sonoro.

Um dos temas / questões mais recorrentes na Berlinale, as políticas migratórias, surge em forma de diálogo e observação nos filmes do brasileiro Felipe Bragança (ESCAPE FROM MY EYES, sobre uma ocupação em uma praça central de Berlim) e da israelense Silvina Landsmann, (em HOTLINE – que, como diz sua sinopsee, “tem uma câmera que catapulta o espectador para o meio da ação”.

Em meio aos filmes, e honrando o debate proposto em seu próprio nome, o Cine Esquema Novo Expandido – Berlinale Forum 2015 abraça naturalmente as videoinstalações, que ocupam as dependências da Cinemateca Capitólio. Da Suíça / Alemanha vem o queer, colorido e hermético OPAQUE, de Pauline Boudry e Renate Lorenz, que conta com a performance de Werner Hirsch e Ginger Brooks Takahash. E do Brasil, dois trabalhos de cineastas/artistas que chegaram à Berlinale a partir dos encontros com a Curadora do Forum em Porto Alegre durante o CEN do ano passado: Fred Benevides, com VIVENTES, e Arthur Tuoto (ganhador da Competição Brasil do Cine Esquema Novo 2014 com o filme-ensaio “Aquilo que Fazemos com as Nossas Desgraças”), que comparece com seu “pequeno” video loop JE PROCLAME LA DESTRUCTION.

Na última sessão do programa, dia 08 de Novembro, é a vez do trabalho do consagrado artista libanês Akram Zaatari TWENTY-EIGHT NIGHTS AND A POEM. Premiado no Forum / Forum Expanded com este impressionante ensaio visual, também recentemente exibido no programa Films from Here: Recent Views from the Arab World no MoMA, Zaatari coloca um olhar refinado na simplicidade da vida de um velho dono de um tradicional estúdio fotográfico no Líbano.

Esta volta ao mundo estética e geográfica de uma semana pelo audiovisual contemporâneo, com entrada franca, é o convite do Cine Esquema Novo Expandido – Berlinale Forum 2015. Uma realização da ACENDI – Associação Cine Esquema Novo de Desenvolvimento da Imagem, realizada em correalização / parceria com a Prefeitura de Porto Alegre através da Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal de Cultura e o Goethe-Institut Porto Alegre.

Cine Esquema Novo:

Alisson Avila, Gustavo Spolidoro, Jaqueline Beltrame, Ramiro Azevedo

 

NO CINEMA

The Forbidden Room, de Guy Maddin e Evan Johnson (Canadá) 2015, 120min (Forum)

Iec Long, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata (Portugal) 2014, 31min (Forum Expanded)

Beira-Mar, de Filipe Matzenbacher e Márcio Reolon (Brasil) 2015, 83min (Forum)

A field guide to the ferns, de Basma Alsharif (Palestina) 2015, 11min (Forum Expanded)

La Maldad, de Joshua Gil (México) 2015, 74min (Forum)

Counting, de Jem Cohen (EUA) 2015, 111min (Forum)

Freie Zeiten (After Work), de Janina Herhoffer (Alemanha) 2015, 71min (Forum)

Escape from my eyes, de Felipe Bragança (Brasil / Alemanha) 2015, 33min (Forum Expanded)

Hotline, de Silvina Landsmann (Israel / França) 2015, 100min (Forum)

Twenty-eight nights and a poem, de Akram Zaatari (Líbano) 2015, 120min (Forum)

 

NA GALERIA

Opaque, de Pauline Boudry e Renate Lorenz (Suíça / Alemanha)2014, 10min (Forum Expanded Exhibition)

Je proclame la destruction, de Arthur Tuoto (Brasil) 2014, 4min, (Forum Expanded Exhibition)

Viventes, de Frederico Benevides (Brasil) 2015, 21min, (Forum Expanded Exhibition)

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