Amanda Teixeira
Amanda Teixeira
2020, 10min, RS
Amanda Teixeira
2020, 10min, RS
Cantar é com os passarinhos
Cantar é com os passarinhos
Partindo do livro Pássaros do Brasil como disparador, busco pensar relações entre ausência e transformação na maneira como organizamos e narramos memória e história. O livro é uma enciclopédia organizada por Eurico Santos, que me foi dado pelo meu pai antes de seu falecimento. Sempre me interessei por esse exemplar, com ilustrações e descrições de cada ave, porém recentemente o redescobri pelas marcas do tempo - suas páginas de ilustrações deixaram fantasmas sobre as páginas de texto. |
* Legenda EN
Direção: Amanda Teixeira
BIOGRAFIA DE ARTISTA
BIOGRAFIA DE ARTISTA
Amanda Teixeira é artista visual e designer. Sua produção se desdobra em vídeo, fotografia, objeto e instalação. Em dezembro de 2019 abriu sua segunda exposição individual “tudo está cuidadosamente envolto em pó”, com curadoria de Eduardo Veras, no Instituto Goethe em Porto Alegre. Realizou residência artística em Isafjordur, noroeste da Islândia, em 2017, após finalizar dois semestres como bolsista DAAD na Academia de Artes e Mídias de Colônia, na Alemanha. Em 2015 tornou-se bacharel em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UFRGS, com mobilidade acadêmica pela Universidad de Buenos Aires em 2012. Recebeu Prêmio Açorianos em 2013 de Artista Revelação por sua primeira exposição individual faz-se em si o lugar, e em 2014 Projeto Alternativo e Apoio a Produção com a editora de livros de artista Azulejo Arte Impressa, projeto criado com Pedro Cupertino. Foto: Maciel Goelzer FILMOGRAFIA Coisas que cabem em uma caixinha de fósforos - (2014, 3min) INSTAGRAM
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Ouça o podcast com a Diretora e a equipe do CEN
Demorei muito tempo para chegar nesse formato... Tentei pensar como uma série de fotos, ou uma possível instalação. Aí veio a pandemia e tive que pensar um formato que funcionaria para ser visto na tela do computador.
LISTA DE PÁSSAROS EXTINTOS PESQUISADOS DURANTE O PROCESSO DO VÍDEO
Gritador-do-Nordeste (C. mazarbarnetti)
Limpa-Folha-do-Nordeste (Philydor novaesi)
O Caburé-de-Pernambuco ( Glaucidium mooreorum ) - https://www.youtube.com/watch?v=KMtkzKjbJ0k
Arara-Azul-Pequena ( Anodorhynchus glaucus )
Ararinha-Azul ( Cyanopsitta spixii )
A choquinha-de-Alagoas ( Myrmotherula snowi )
Rolinha-do-Planalto ( Columbina cyanopis )
1.919 espécies conhecidas no país
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_aves_amea%C3%A7adas_do_Brasil
https://www.wikiaves.com.br/wiki/zidede-do-nordeste
https://www.wikiaves.com.br/wiki/choquinha-de-alagoas
https://www.wikiaves.com.br/wiki/choquinha-fluminense
https://www.wikiaves.com.br/wiki/formigueiro-de-cabeca-negra
https://www.wikiaves.com.br/wiki/formigueiro-do-litoral
https://www.wikiaves.com.br/wiki/papa-formiga-do-sincora
https://www.wikiaves.com.br/wiki/bicudinho-do-brejo-paulista
https://www.wikiaves.com.br/wiki/bicudinho-do-brejo
https://www.youtube.com/watch?v=dZwCDdU2gTc
https://www.wikiaves.com.br/wiki/veste-amarela
https://www.wikiaves.com.br/wiki/trepador-do-nordeste
MATERIAIS DE PESQUISA
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ARTIGO SOBRE EURICO SANTOS, REVISTA PESQUISA FAPESP
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ARTIGO ACADÊMICO - Eurico Santos: divulgador da natureza brasileira, de Silvio Marchini
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
FILMES
Assista Os Catadores e Eu, de Agnes Varda
Assista Beckton Alps, de Marina Camargo
O Bem Viver – Alberto Acosta
REFERÊNCIAS LITERÁRIAS
Fahrenheit 451 – Ray Bradbury (1953)
queimar era um prazer
na cabeça impassível, o capacete simbólico com o número 451 e, nos olhos, a chama laranja antecipando o que viria a seguir, ele acionou o acendedor (…) Enquanto os livros se consumiam em redemoinhos de fagulhas e se dissolviam no vento escurecido pela fuligem.
(…)
Meu avô morreu quando eu era garoto. Ele era escultor. Também era um homem muito generoso, com muito amor para dar ao mundo, e ajudou a reduzir a miséria de nossa cidade; ele fazia brinquedos para nós e fez milhões de coisas na vida; sempre tinha as mãos ocupadas. E, quando morreu, subitamente percebi que não estava chorando por ele, mas por todas as coisas que ele fazia. Eu chorava porque ele nunca mais as faria novamente, nunca mais esculpiria outra peça de madeira ou nos ajudaria a criar pombos no quintal, nem tocaria violino do jeito que tocava ou nos contaria piadas com aquele seu jeito pessoal. Ele fazia parte de nós e, quando morreu, todas essas coisas morreram com ele e, não havia ninguém para fazê-las do jeito que ele fazia. Ele era único. Era um homem importante. Jamais superei sua morte. Muitas vezes penso: quantas esculturas maravilhosas jamais vieram a luz porque ele morreu. Quantas piadas estão perdidas para o mundo e quantos pombos sua mãos deixarão de tocar. Ele moldava o mundo. Ele fazia coisas para o mundo. O mundo sofreu uma perda de dez milhões de ações generosas na noite em que ele morreu.
(…)
ali deitado, os olhos pregados de poeira, um fino cimento úmido de pó em sua boca agora fechada, ofegando e chorando, Montag pensou novamente: eu me lembro, eu me lembro, eu me lembro de mais uma coisa. O que é? Sim, sim, parte do Eclesiastes. Parte do Eclesiastes e do Apocalipse. Parte daquele livro, uma parte dele, depressa agora, depressa, antes que se vá, antes que o choque o consuma, antes que o vento morra.
Montag observou a grande poeira se assentar e o grande silêncio baixar sobre o mundo. E ali deitado, parecia-lhe ver cada grão de poeira e cada lâmina de capim e ouvir cada choro, grito e sussurro se erguendo agora no mundo. O silêncio se estendia na poeira que se dissipava, e com ele todo o lazer que poderiam desejar para olhar ao redor e deixa os sentidos se impregnarem da realidade intensa desse dia.
Montag olhou para o rio. Continuaremos seguindo o rio. Olhou para os velhos trilhos da ferrovia. Ou iremos por aquele caminho. Ou caminharemos agora pelas estradas e teremos tempo para pôr as coisas dentro de nós. E algum dia, depois que elas decantarem em nós por muito tempo, sairão por nossas mãos e bocas. E muitas delas estarão erradas, mas o suficiente estará certo. Começaremos a caminhar hoje e veremos o mundo e o modo como ele caminha e fala, o modo como ele realmente é. Agora quero ver tudo. E embora nada do que entrar fará parte de mim quando entrar, após algum tempo tudo se juntará lá dentro e se fundirá em mim.
BRADBURY, Ray. Fahrenheit 451. Rio de Janeiro: Biblioteca Azul, p. 15; p. 219-220; p. 226-227, 1953.
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O bem viver – Alberto Acosta
No terreno prático, Cristóvão Colombo, com sua histórica viagem, sentou as bases da dominação colonial, com consequências indubitavelmente presentes até os dias de hoje. Colombo buscava recursos naturais, especialmente especiarias, sedas, pedras preciosas e ouro. Segundo Colombo, que chegou a mencionar o metal precioso 175 vezes em seu diário de viagem, "o ouro é excelentissimo; do ouro se faz tesouro e, com ele, quem o possui, faz o que quiser no mundo, e chega inclusive a levar as almas ao paraíso".
Colombo abriu as portas para a conquista e a colonização. Com elas, em nome do poder imperial e da fé, iniciou-se uma exploração impiedosa de recursos naturais e seres humanos, com o conseguinte genocídio de muitas populações indígenas.
O desaparecimento de povos inteiros - mão de obra barata e subjugada - foi "compensado" com a incorporação de escravos provenientes da África: escravos que logo dariam uma importante contribuição ao processo de industrialização, como reconheceria Karl Marx em 1846:
Sem a escravidão, não teríamos a indústria moderna. Foi a escravidão que deu ás colônias o seu valor, foram as colônias que criaram o comércio mundial, é o comércio mundial que é a condição da grande indústria. Assim, a escravidão é uma
(…)
Há que considerar, então, que a ideia uniformizadora do desenvolvimento é uma armadilha. Em 1982, Wolfgang Sachs já havia apresentado
A suspeita e que o desenvolvimento foi um empreendimento mal concebido desde o começo. Na verdade não é o fracasso do desenvolvimento que devemos temer, mas seu êxito. Como seria um mundo completamente desenvolvido? Não sabemos, mas certamente seria monótono e repleto de perigos. Posto que o desenvolvimento não pode ser separado das ideias de que todos os povos do planeta estão se movendo em um mesmo caminho rumo a um estágio de maturidade, exemplificado pelas nações que conduzem essa visão, os tuaregues, os zapotecos ou os rastejães não são vistos como se vivessem modos diversos e não comparáveis de existência humana, mas como povos carentes de que foi obtido pelos países avançados. Em consequência, decretou-se que alcançá-los seria sua tarefa histórica. Desde o começo, a agenda secreta do desenvolvimento não era nada mais que a ocidentalização do mundo.
(…)
Os vastos sulcus da monotonia cultural que herdamos não, como em toda monoculture, tanto estéreis como perigosos. Eliminaram as inúmeras variedades de seres humanos e converteram o mundo em um lugar desprovido de aventura e surpresa. O "outro” desapareceu com o desenvolvimento.
ACOSTA, Alberto. O Bem Viver. São Paulo: Autonomia Literária, p. 64; p. 88-89; p. 89-90, 2016
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“a ideia de que nossa espécie é de aparição recente no planeta, que a história tal como a conhecemos é mais recente ainda, e que o modo de vida industrial, baseado no uso intensivo de combustíveis fosseis, iniciou-se menos de um segundo atrás, na contagem do relógio evolutivo do homo sapiens, parece apontar para a conclusão de que a humanidade ela própria é uma catástrofe, um evento súbito e devastador na história do planeta, e que desaparecerá muito mais rapidamente que as mudanças que terá suscitado no regime termodinâmico e no equilíbrio biológico da Terra.”
DANOWSKI, Débora; CASTRO, Eduardo Viveiros de. Há Mundo Por Vir? Ensaios Sobre os medos e os fins. Florianópolis: Cultura e Barbárie. 2017
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Filme “My Father”, de Shigeko Kubota
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Palestra de Anna Tsing e Donna Haraway sobre o antropoceno