Dandara de Morais

Não recomendado para menores de 16 Anos
Violência; Nudez; Drogas Ilícitas

Dandara de Morais

As Vezes Que Não Estou Lá
2020, 25min, PE
Não recomendado para menores de 16 Anos
Violência; Nudez; Drogas Ilícitas

Dandara de Morais

As Vezes Que Não Estou Lá
2020, 25min, PE
Não recomendado para menores de 16 Anos
Violência; Nudez; Drogas Ilícitas
As Vezes Que Não Estou Lá
As Vezes Que Não Estou Lá
Rossana enxerga e vive o mundo através de um vidro borderline. Entre pliés, delírios dançantes e duros golpes de realidade, ela busca seu lugar no mundo

Direção: Dandara de Morais
Produção Executiva: Danielle Valentim
Direção de Fotografia: Safira Moreira
Direção de Arte: Lia Letícia
Montagem: Ana Julia Travia, Dandara de Morais
Elenco: Dandara de Morais, Aurora Jamelo, Anne Costa, Amethyst, Claudio Ferrario, Eliane Santos, Erick Felipe, Everton Gomes, Gustavo Patriota, Jean Santos, Maria Laura Catão, Meujael Gonzaga, Una Martins, Sophia Williams
Roteiro: Dandara de Morais
Figurino: Mariana Souza e Rayanne Layssa

Festival Canto da Sereia
River Film Festival (Itália)
Esto es Para Esto (México)
Lift Off Sessions (ONLINE)

BIOGRAFIA DE ARTISTA

BIOGRAFIA DE ARTISTA

Foto: Analu

Dandara de Morais (Recife, 1990), multiartista. Diretora, roteirista e atriz protagonista dos curtas “Bup” (2018), premiado no 25o Festival de Vitória e no XI Janela Internacional de Cinema e “Às vezes que não que não estou lá” (2020), que teve sua estreia no River Film Festival (Itália). Atuou no longa “Ventos de Agosto” e foi premiada no Festival de Brasília como Melhor Atriz. Teve papéis de destaque em curtas e longas nacionais: Açúcar (2017) de Renata Pinheiro e Sergio Oliveira, Superpina: Gostoso é Quando a Gente Faz! (2018) de Jean Santos, O Homem Cordial (2019) de Iberê Carvalho, Rio Doce de Fellipe Fernandes e Quantos Eram pra Tá? (2018) de Vinícius Silva.

Seus trabalhos confessionais investigam as relações da mulher negra com o mundo, explorando dança, poesia e música. Atualmente segue trabalhando como atriz, bailarina, diretora, escritora, poeta, montadora e roteirista nas mais variadas manifestações artísticas.

FILMOGRAFIA

Malhação - Novela, Rede Globo (2010)
Loja de Répteis - Pedro Severien (2014,17min) 
Ventos de Agosto - Gabriel Mascaro (2014, 77min)
Açúcar - Renata Pinheiro e Sergio Oliveira (2017, 87min) 
Malasartes e o Duelo com a morte - Paulo Morelli (2017, 107min) 
Os Filmes que Moram em Mim - Caio Sales (2018, 14min) 
Simone: Estórias em Estação de Transferência - Renato Cândido (2018, 24min)
Superpina: gostoso é quando a gente faz! - Jean Santos (2018, 25min)
Bup - (2018, 7min)
Grito! Parte I: Mini Manifesto Feminista Interseccional em Imagens - (2018, 23min)
Quantos eram pra Tá? - Vinícius Silva (2018, 29min)
O Homem Cordial - Iberê Carvalho (2019, 83min)
Sem Ser Tocada - (em finalização)
Da Cor do Céu sem Nuvens - Helena Guerra (em finalização)
Rio Doce - Fellipe Fernandes (em finalização)
Uma Sequência de Muitas Ondas - (em desenvolvimento)

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TEASER 

***

Inicialmente o filme se chamava “CID F33”, código usado pela psiquiatria para o transtorno depressivo recorrente, doença que achava ter até o ano de 2019. Quando ainda estava na escola, comecei a apresentar os primeiros sinais de doença mental.Comecei a fazer terapia e logo fui encaminhada pra um psiquiatra, que disse que eu não tinha nenhuma doença, e sim um problema espiritual. Me receitou remédios controlados que tomei em excesso no meu primeiro surto suicida e fui parar no hospital. De lá pra cá, passei por 3 terapeutas e 6 psiquiatras até encontrar as profissionais que me acompanham até hoje.

Nesse processo, sofri diversos tipo de violência, um deles retratei no filme, que foi o “abandono” por uma das psiquiatras. Ninguém conseguia me diagnosticar, pensavam que eu tinha depressão, anorexia, bulimia, transtorno bipolar, e troquei de medicação diversas vezes. Até que depois do episódio de violência, o qual comentei sobre nas redes sociais, surgiu indicação de uma psiquiatra que me acompanha até hoje. Ela foi a primeira a suspeitar do transtorno de personalidade borderline, e depois de alguns meses me acompanhando fechou o diagnóstico. Descobri que tudo que eu sentia era parte de uma condição mental devastadora, suicida, explosiva, que faz você transitar entre a depressão profunda e a euforia. Nesse tempo, o roteiro passou por alterações até chegar no filme que tenho hoje, que é um retrato de agressões sofridas por mim por ser negra e borderline. Ouvi coisas como “você tem frescura” “quer chamar atenção dos seus pais” e pra mim, todas essas violências foram o substrato da obra. Todas as situações que acontecem nele foram vividas por mim. Tanto as boas quanto as ruins. Meu desejo maior era trazer pra tela uma bailarina, negra, que era tudo que eu sempre quis ser desde criança mas fui atrapalhada pela minha condição mental e pelo racismo estrutural. A princípio o filme não tinha cenas de “delírio”, digamos assim, era bem mais tradicional. Apesar dele se passar de trás pra frente, os primeiros tratamentos se aproximavam bem mais de um drama clássico. Minha mente sempre foi uma viajante do espaço tempo, criando e recriando situações surreais dentro da minha cabeça. Foi quando assisti “Random Acts of Flyness” que se abriu um portal. Eu já sabia que no cinema é tudo de mentira, mas eu não sabia que podia criar verdades e usá-las ao meu favor. Essa série e o curta “Rebirth is Necessary” foram as maiores  referências para meu trabalho, em conjunto com meus anos de dedicação e prática da dança e também a trajetória do meu primeiro filme “Bup”, comecei a entender e dei asas de pegasus ao roteiro. 

Enquanto o lado intelectual do cérebro fervia, estava acontecendo algum tipo de transformação muito barulhenta, atravessada com trocentas descobertas novas por dia, vários forninhos sendo derrubados, outros construídos e realocados; No lado existencial, tendo o diagnóstico correto e finalmente uma medicação que fazia efeito, consegui enxergar quem eu realmente sou e não sou, quantas, quais desejos, quais e o que é sintoma, o que parece muito com sintoma mas não é, onde fui travada, onde e quem sou eu, muitas análises, muitas leituras do que escrevo em cadernos e vontade de colocar pra fora alguma coisa sobre alguém que poderia ser você. Comecei a ver novas imagens, vi como meus pesadelos desconexos poderiam me servir para refletir uma angústia da personagem, pra expurgar meus traumas, me permitindo adicionar camadas e mais camadas pra quem assiste se aproximar de sensações de minha mente e meu corpo.

 

PERFIL PERSONAGENS 

SANA (Dandara de Morais) – bailarina, professora de ballet para crianças e ballet fit para adultos. Introspectiva, melancólica e instável. Sua vida gira em torno da dança. Transita entre o esportivo e o descolado. Gosta de bonés.
Música: Brujas, de Princess Nokia 

LIA (Aurora Jamelo) – estudante de design de moda. Observadora, introspectiva e elegante. Um raio de sol. Estagia na trocando em miúdos e começou a produzir suas peças autorais. Chique de brechó.
Música: Cranes in the sky, de Solange 

MARI (Erick Felipe) – funcionário da secretaria de cultura e curador. Endinheirado. Engraçado, humor ácido e sagaz. Conselheiro da galera, adora viajar e trazer presentes. Sabe todos os podres do governo PSB. Careca. Confortável e elegante.
Música: Garota de programa, da Banda Brega.com 

G.G. (Jean Santos) - escritor e jornalista. Faz freelas para revistas independentes, zines e cobre eventos de arte. Inteligentíssimo, crítico e sagaz. Conheceu Sana na aula de dança contemporânea. Namora Mari. Despojado, roupas sem gênero.
Música: Vitrines, de Gilberto Gil

Regina Valéria (Aninha Martins) – cantora, performer, atriz e dançarina. Dona de uma risada contagiante, adora contar histórias sobre estar empanzinada. Se conheceram na dança contemporânea. Harebo chique. Cabelo curto.
Música: Paola, de Aninha Martins

Boy – branco, boylixo. Se acha o cara, rico que paga de shalalá. Fotógrafo por profissão e cantor numa banda da cena Beto. Combo barba, bigode e camisa horti fruti. Paloso.
Música: Qualquer uma de Belchior

ROTEIRO

 

REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS

Rebirth is Necessary, de Jenn Nkiro 

JUSTIFICATIVA: "Renascer É Necessário" foi o filme que mais assisti pra me inspirar. Quando gosto de algo, assisto e re-assisto diversas vezes. Fico admirando e descobrindo os detalhes que passaram despercebidos da última vez e pensando "que incrível". Acho que por ser um filme bem dinâmico e com diversos tipos de captação e narrativas, percebi como minhas visões e ideias de audiovisual estavam engessadas. Apesar de não entender tudo que é falado, as cores, texturas e as transições entre os atos, me enchem os olhos e perturba minha consciência de uma forma curiosa.

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Donna Wood, em CRY de 1982

JUSTIFICATIVA: Ao longo da vida, vou adquirindo várias fixações, e organizo meu movimento pra de alguma forma me aproximar delas. Pra mim, essa é uma das melhores performances em dança. Eu me pego passando a mão no rosto e levantando as pernas assim como a bailarina, também me vejo em um lugar muito distante que não conheço, que celebra, vibra, pulsa, como se eu reencontrasse uma parte de mim que sempre existiu sem que eu soubesse. Gosto muito quando o corpo fala primeiro e o verbo fica pra depois, ali ela está me contando que sim, há muito sofrimento e angústia, mas lado a lado está um sentimento próximo a alegria e uma celebração de si.

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Other Side of The Game, de Erykah Badu 

JUSTIFICATIVA: : "Realmente quero meu bebê?" assim ela destrói meu coração. Erykah Badu te olha fundo e te transporta pra sua casa, seu marido lindíssimo que você tinha uma queda na adolescência, seu drama. A forma com que ela se move e canta faz o tempo passar mais devagar, você fica cada vez mais envolvida na trama. Ela quebra as expectativas com inversões de narrativas e quem assiste se questiona o que danado está acontecendo naquela casa. De repente, batimentos cardíacos e parece que acontece dentro de mim. É estranho mas ao mesmo tempo acalanto assistir uma história romântica. No fim, parece que vai ficar tudo bem. Inclusive pra quem assiste, termino com uma sensação de que mesmo com atropelos e momentos de aflição cotidiana, vai dar tudo certo.

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Fantasmas, de Andre Novais Oliveira 

JUSTIFICATIVA: Ao trabalhar com apenas uma imagem captada e ainda assim cativar quem assiste numa narrativa angustiante, me apaixono por esse filme e tenho ele como uma grande referência de cinema experimental. É possível fazer um filme com apenas uma imagem e uma aflição

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Maya Plisetskaya dançando o Bolero de Ravel

JUSTIFICATIVA: Aqui o que mais me cativa é a coreografia. A bailarina vestida tão simples e fazendo movimentações singelas, aos poucos vai mudando de tom sem precisar introduzir novos elementos. O que me encanta é a forma com que a coreografia dialoga com o crescendo da música. E no fim explodimos juntas.

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Way To The Show, de Solange 

JUSTIFICATIVA: Esse clipe me ensinou como ser elegante com poucos elementos. Nem sempre quantidade é qualidade, e aqui essa afirmação está bem ilustrada. O movimento de câmera e a forma como Solange conta sua história pra mim é hipnotizante. Assisto e tenho desejo de estar ali junto dela. Ou de pegar minhas histórias e contar de uma forma simples porém bem construída narrativa e visualmente.

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Assista Homecoming, de Beyonce

JUSTIFICATIVA: Não consigo descrever porque escolhi esse filme. Apenas posso dizer que gosto da forma com que ao assistir me sinto numa conversa com Beyoncé. Ela me conta seus sentimentos através de uma costura de imagens de diferentes texturas e também com sua voz narrando em primeira pessoa. É simplesmente acolhedor e provocador. Assisto desejando fazer parte daquele show, daquele balé, daquela conquista. Mesclando momentos íntimos e momentos de trabalho, sinto como se eu pudesse ser aquela mulher tão poderosa.

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Little Girl Blue, de Nina Simone 

JUSTIFICATIVA: Esse álbum faz me lembrar de um tempo que podia ver o rio da janela do meu quarto. Tem alguma coisa mágica nele que acessa apenas os momentos bons que vivi naquele apartamento. Morava no 2 andar e costumava sentar no batente da janela ou deitar na cama e colocar os pés pra fora e ficar olhando pro céu. Tenho costume de sempre ficar na janela ou o mais próximo possível para enxergar o infinito que é esse mundo. Quando ouço me sinto abraçada pra fazer o que quiser tendo a voz de Nina como guia.

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When I Get Home 

JUSTIFICATIVA: Falo inglês, mas nem por isso consigo entender todas as letras desse álbum. O não entendimento pra mim também faz parte do processo criativo, quando não se entende,procura-se respostas dentro de si. O disco me desperta várias sensações, seja ficar deitada, seja olhar o céu, seja dançar ou colocar pra me fazer companhia ao dormir. Gostaria muito de incluir aqui na lista de referências o álbum visual de mesmo nome, porém não encontrei.

OBRA CONVIDADA

OBRA CONVIDADA

Random Acts of Flyness
De Terence Nance (2018, 5 Eps, USA)
Não recomendado para menores de 16 anos. Violência; Nudez; Sexo

Sinopse: “Random Acts of Flyness” é a nova série noturna do artista Terence Nance que explora expressões culturais sempre vivas, como o patriarcado, a supremacia branca e a sensualidade, por uma nova perspectiva instigante. Uma resposta fluída e consciente ao panorama midiático americano contemporâneo, cada episódio de 'Random Acts of Flyness' apresenta um punhado de vinhetas interconectadas, apresentando um conjunto de talentos emergentes e estabelecidos. O programa é uma mistura de documentário, performances musicais, melodrama surrealista e animação humorística. Nance e seus colaboradores tecem juntos temas como trauma ancestral, história, morte, singularidade, romance e muito mais, criando um programa de televisão como nunca visto antes.
JUSTIFICATIVA

Lembro de ter aprendido em alguma aula de ciência na escola: “na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”, e em algum momento da vida artística aprendi o famoso "nada se cria, tudo se copia" do qual não sou muito fã. Talvez por ter essas duas afirmações ressonando em minha mente, ao ser perguntada quais minhas referências de trabalho sempre fugi da resposta, por achar que ter referências ia me fazer uma imitadora.

Porém, uma afirmação caiu por terra. Quando assisti "Random Acts of Flyness" que eu traduzo livremente como "Atos Randômicos de Lombra" percebi que estava errada. Eu não assisti e quis fazer igual, entendi que ter referências é como se ter um mapa. É alguém te mostrar o caminho, mas quando e como você vai chegar, só você sabe. E o caminho é de auto afirmação. Escolhi essa obra como minha referência pela importância que teve/tem pra mim, perceber que minha história merece ser contada da forma que eu quero, e que eu posso usar todas as ferramentas disponíveis e também inventar alguma nova, se for preciso. Infelizmente ainda não possui legenda em português, mas acredito que dando play e dedicando todos os sentidos ao "assistir" dessa obra, você também vai viajar na sua mente.