Carlos Adriano

Não recomendado para menores de 14 Anos
Violência

Carlos Adriano

sem título # 6: o Inquietanto
2020, 16min, SP
Não recomendado para menores de 14 Anos
Violência

Carlos Adriano

sem título # 6: o Inquietanto
2020, 16min, SP
Não recomendado para menores de 14 Anos
Violência
sem título # 6: o Inquietanto
sem título # 6: o Inquietanto

À companhia de Antonin Artaud e Robert Walser, um convite ao abismo, familiar e desconhecido – unheimlich. O mistério da memória e do amor, além da alma; o inesperado da angustiante estranheza; o que retorna outrora. Laços e lapsos poéticos de um cinepoema de found footage e de um ensaio documentário, entre um filme experimental japonês (1926) e um filme industrial norte-americano (2010). Um “espelho do meu desespero” (Charles Baudelaire). Da série “apontamentos para uma autocinebiografia (em regresso)”.

Empresa Produtora: Babushka
Direção: Carlos Adriano
Produção: Carlos Adriano
Produção Executiva: Carlos Adriano
Direção de Fotografia: Carlos Adriano
Direção de Arte: Carlos Adriano
Som: Carlos Adriano
Montagem: Carlos Adriano
Animação: Carlos Adriano
Roteiro: Carlos Adriano

2020 É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários
forumdoc.bh.2020.

BIOGRAFIA DE ARTISTA

BIOGRAFIA DE ARTISTA

 

Doutor em Estudo dos Meios e da Produção Mediática (USP, 2008; orientação: Ismail Xavier; Bolsa Fapesp). Pós-Doutorado (PUC-SP, 2014; supervisão: Arlindo Machado; Bolsa Fapesp). Pós-Doutorado em Meios Audiovisuais (USP, 2017; supervisão: Cristian Borges; Bolsa Capes).

Retrospectivas: Festival do Rio (2002); 56º Festival de Locarno (2003); 6º Festival de Curtas de BH (2004); 16º Festival Sesc Videobrasil (2007); Instituto Tomie Ohtake (2019).

Filmes exibidos no MoMA (Nova York) e Tate Modern (Londres). Realizou, entre outros, “A Voz e o Vazio: a Vez de Vassourinha” (1998; Melhor Curta Documentário, 36º Festival de Chicago), “Santos Dumont Pré-Cineasta?” (2010; Melhor Direção, 10º Recine), “Dance of Leitfossil” (2014; Melhor Filme, Golden Reel Festival) e “A Rotina terá seu Enquanto” (2019; Melhor Curta, 24º É Tudo Verdade).

Seu trabalho é tema de um capítulo de “The Sublimity of Document: cinema as diorama (avant-doc 2)”, de Scott MacDonald (Oxford University Press, 2019).

FILMOGRAFIA 

Suspens - (1989, 13min)
A Luz das Palavras - (1992, 8min)
Remanescências - (1997, 18min)
A Voz e O Vazio: A Vez de Vassourinha - (1998, 16min)
Militância - (2002, 10min)
O Papa da Pulp: R. F. Lucchetti - (2002, 15min)
Um Caffé com o Miécio - (2003, 15min)
Porviroscópio - (2006, 31min)
Das Ruínas a Rexistência - (2007, 13min)
Santoscópio = Dumontagem - (2009, 14min)
Santos Dumont Pré-Cineasta? - (2010, 63min)
Sem título # 1 : Dance of Leitfossil - (2014, 5min)
Sem título # 2 : la mer larme - (2015, 31min)
Festejo Muito Pessoal - (2016, 8min)
Sem título # 3 : e para que Poetas em Tempo de Pobreza? - (2016, 13min)
Sem título #4: Apesar dos Pesares, na Chuva há de Cantares - (2018, 30min)
MarMúRio - (2019, 6min)
Sem título # 5 : A Rotina terá seu Enquanto - (2019, 10 min)
O que Há em Ti - (2020, 16min)

 

TRAILER
6 PERGUNTAS PARA CARLOS ADRIANO, DIRETOR DE "SEM TÍTULO # 6 : O INQUIETANTO"

Para mim é um tanto difícil tentar dizer como este filme surgiu. Até seria um contrassenso tentar explicar o processo de algo (re)criado sob o signo do “inquietante” freudiano (unheimlich), a própria condição  de “inquietante estranheza” dificulta a tarefa (talvez mais solícita à análise psicanalítica). Afinal, o mistério (não apenas nas coisas da arte, mas sobretudo nas da vida) é mister.

Inicialmente me apercebi das semelhanças, em termos do entrecho episódico, entre dois filmes produzidos num intervalo de quase meio século e no lapso de gêneros e modos de produção distintos. Outras referências me ocorreram, como Artaud e Walser.

Durante a montagem do filme, um verso de um poema chamado “Música”, de Charles Baudelaire (verso cuja rima funciona tanto em francês como em português), me voltou à memória (minha Gradiva?) com assombrosa pertinência e propriedade, formulando uma definição do que eu sentia em relação ao filme: “espelho do meu desespero”.

 
DEPOIMENTOS

“For the past three decades, the Brazilian master Carlos Adriano has been exploring  his national cinema’s roots on film, together with his relationship to the cinematic  medium as a whole. In the process, he has become one of the world’s great  contemporary practitioners of found-footage filmmaking, as he intermingles sounds  and images from popular culture with fragments of his own life story in creative,  surprising, and consistently moving ways. We are fortunate to have this magnificent  artist’s continually growing output with us, and to watch its trajectory unfold.”
Aaron Cutler e Mariana Shellard (2019) (curadores, São Paulo / Nova York)

*

“Um dos mais originais realizadores brasileiros, Carlos Adriano venceu a disputa de curtas nacionais do É Tudo Verdade com ‘Sem Título #5: A Rotina terá seu Enquanto’. Trabalhando como é habitual no registro do cinema de ‘found footage’, que se apropria e ressignifica imagens de arquivo fílmico, ele dá sequência à sua série autocinebiográfica revisitando ‘A Rotina tem seu Encanto’ (1962), de Yasujiro Ozu. Com requinte ‘mondrianesco’, como certeiramente notado pelo júri, é um dos pontos altos de exatas três décadas de exuberante cinema.”
Amir Labaki (2019) (crítico e diretor do É Tudo Verdade, São Paulo)

*

“não / seu cine / se nega à / cinemesmice / cinepoema / signema / sim / (...) /  cinestesia / grãos e somruídos / redesmontados em minutos-luz / curtas metragens / de  longavida.”
Augusto de Campos (2002) (poeta e tradutor, São Paulo) 

*

“O conjunto do trabalho revela um cineasta mais profundamente envolvido com a linguagem que elegeu do que qualquer outro em atividade hoje de que eu tenha conhecimento. Um cineasta para cineastas. Mas também um cineasta para poetas e artistas. E, portanto, para todos os verdadeiros amantes do cinema. Seus filmes são  feitos para o espectador-artista, isto é: fazem do espectador que de fato os vê um  artista. E fazem já uma diferença na perspectiva crítica de todo o nosso cinema.”
Caetano Veloso (2002) (compositor e cantor, Salvador / Rio de Janeiro)

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“Os filmes de Carlos Adriano não são feitos apenas com o coração e a mente, eles sobretudo cortam na carne mesma do cinema para encontrar sua luz, vivem do corpo a corpo com a própria matéria de que o cinema é feito, retomando, da tradição mais  primitiva, seu mais sofisticado destino. Esses filmes não são uma interpretação  possível do cinema; ao contrário, eles desejam ser o próprio cinema, de um modo concreto, uma sua educação pela pedra da imagem. Pura criação de um universo  audiovisual alternativo ao que vivemos.”
Carlos Diegues (2002) (cineasta, Rio de Janeiro)

“Carlos Adriano : he’s reel!”
Décio Pignatari (1999) (poeta e tradutor, São Paulo) 

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“Havia em todos os seus filmes um sentimento quase palpável de um diretor que, por detrás daquelas imagens e sons nos dizia: ‘aqui está o mistério, vocês não vêem?’ Em ‘Santos Dumont: pré-cineasta?’, este curto-circuito entre micro e macro Histórias e entre o passado remoto e o que recém se foi, que está presente no gesto de Carlos Adriano ao, de alguma forma, igualar um mínimo momento de seu companheiro a um registro de um dos bustos mais conhecidos de nossa história, é de uma autenticidade tocante, que em nenhum momento registra o menor grau de arrogância ou umbiguismo, mas somente a encarnação em filme da crença de alguém para quem a relação com a vida e com o cinema parece se igualar num mesmo onipresente sentimento de amor sem limites.” 
Eduardo Valente (2010) (curador e cineasta, Rio de Janeiro)

*

“Carlos Adriano faria o diabo, só com uma única e curta imagem de arquivo.”
Inacio Araújo (2017) (crítico e professor, São Paulo)

*

LEIA MAIS DEPOIMENTOS A RESPEITO DO ARTISTA

 

MATERIAL COMPLEMENTAR

Bibliografia – Sem Título # 6 O Inquietanto

CRÍTICA - Eduardo de Jesus, Catálogo do forumdoc 2020 

Cineastas do Real: Entrevista de Carlos Adriano. por Amir Labaki 

***
Master class com Carlos Adriano: Reapropriação de Arquivos –

Método e Poética | 17ª Conferência - É TUDO VERDADE (2020) 

***

POEMAS

I - poema citado em Sem Título # 6: O Inquietanto
 

Tempo
Robert Walser (1900)
tradução André Vallias (2020)

me quedo aqui, eu tenho tempo,
medito aqui, eu tenho tempo.
o dia é escuro, ele tem tempo,
mais tempo do que eu quero, tempo
para que eu meça, longo tempo.
medida cresce com o tempo.
somente algo excede o tempo,
é a saudade: nenhum tempo
contemporiza com seu tempo.


II - uma epígrafe de Sem Título # 6: O Inquietanto

É mais decente por a nossa
ignorância no mistério,
do que querer mascará-la em explicações.

Lima Barreto
O Cemitério dos Vivos (1953)

 

III - poemas a propósito de Sem Título # 6: O Inquietanto
 

La Musique (1857/1867)
Charles Baudelaire

La musique souvent me prend comme une mer!
Vers ma pâle étoile,
Sous un plafond de brume ou dans un vaste éther,
Je mets à la voile;

La poitrine en avant et les poumons gonflés
Comme de la toile
J'escalade le dos des flots amoncelés
Que la nuit me voile;

Je sens vibrer en moi toutes les passions
D'un vaisseau qui souffre;
Le bon vent, la tempête et ses convulsions

 

 

Poemas de Reapropriação - Sem Título # 6 O Inquietanto 

 

REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS

Ano Passado em Marinmaraisbad (2020, 4min) de André Vallias 

 

Justificativa: “Ano Passado em Marinmaraisbad” é um dos trabalhos audiovisuais que mais me impactou em 2020 e permanece como referência nuclear para a reapropriação de arquivos. A engenhosidade do “achado” quanto ao procedimento estrutural e a pertinência da apropriação quanto à matéria de memória fazem do vídeo um deslumbrante poema de found footage. Quero indicar outro trabalho extraordinário do poeta, tradutor e designer André Vallias: o poema “Augusto de Campos traduz”, lançado em fevereiro de 2021 por ocasião dos 90 anos do poeta, tradutor e ensaísta: um hipertexto de proeza e invenção, de perícia estética e técnica – https://erratica.com.br/ac_traduz/. A obra de Augusto foi fundamental em minha formação e ainda o é em minha criação. Os nomes de seus livros de poemas – “Poetamenos”; “Expoemas”; “Despoesia”; “Não”) – são manifesto de uma posição que, em alguma medida, orientou meus “cinepoemas da recusa” (como Augusto escreveu para mim em dedicatórias de seus livros). 

***

You don’t know me (2014, 1min) de Katia Maciel 



https://katiamaciel.net/you-dont-know-me 

Justificativa: Eu poderia citar aqui diversas obras de Katia Maciel: vídeos e vídeo-instalações como “Timeless” (2011-2015) e “Timelapse” (2015), ou “Ondas: um dia de nuvens listradas vindas do mar” (2006-2014) e “Quebra-Mar” (2017); poemas de “Zun” (2012), de “Repetir” (2015), de “Trailer” (2017), de “Plantio” (2019). Mas escolhi a referência de um vídeo de reapropriação (found footage) que combina uma sequência do filme “Vertigo” (1958), de Alfred Hitchcock, com a canção “You don’t know me” de Caetano Veloso (disco “Transa”, 1972). A música embala e embalsama os giros da vertigem de um casal. 

***

Circuladô (2006, 5min) de André Parente

 

Justificativa: Esta obra tem três versões diferentes: vídeo, video-instalação e instalação interativa. Todas partem de found footage, com imagens de personagens em situações-limite: Thelonius Monk (“Straight no Chase”, Charlotte Zwerin, 1988) gira em torno de si, como se sob um surto psicótico; Édipo (“Edipo Re”, Pier Paolo Pasolini, 1967) na encruzilhada, gira às cegas e segue seu caminho fora da sina do Oráculo; Corisco (“Deus e o Diabo na Terra do Sol”, Glauber Rocha, 1964), antes de cair morto, gira de braços abertos; Dervixes (“Decasia”, Bill Morrison, 2002) fazem seu giro antigo de transe. 

 

OBRA CONVIDADA

OBRA CONVIDADA

Homem Comum
De Carlos Nader (2014, 60min, SP)

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA - Não recomendado para menores de 10 anos

Partindo da mais essencial de todas as perguntas, "qual o sentido da vida?", Homem Comum traça uma relação inesperada entre a vida de um desconhecido cidadão paranaense e a obra-prima de Carl Dreyer, "A Palavra", considerado um dos 25 melhores filmes de todos os tempos. Pode haver algo em comum entre os últimos 20 anos da vida supostamente real de um caminhoneiro brasileiro e as duas horas supostamente ficcionais de um filme dinamarquês dos anos 50?
JUSTIFICATIVA

Carlos Nader é um de meus cineastas prediletos, em qualquer tempo ou latitude da história do cinema.

“Homem Comum” é daqueles milagres que o ser humano realiza quando destila a dor e o júbilo de existir através da arte.

Magistralmente construído entre os códigos do documentário, do ensaio e do found footage (entre é a palavra-passe para o abismo do desconhecido), o filme manifesta nossas inquietações.

Uma indagação direta (entrevista com caminhoneiros) é sobre a estranheza da vida. Outras, articuladas com sutileza e complexidade sobre o filme de Dreyer – a intertextualidade da refilmagem e a reciclagem de arquivo –, compõem uma assombrosa constelação em torno da morte e o (não) sentido de tudo, refletindo a condição humana.

Em dada cena, o diretor diz ao seu personagem real: “nós dois precisamos deste filme para viver”. Ao final da obra-prima, o espectador, extático e atônito, pode dizer o mesmo.

Eis a utopia de toda arte – aquilo de que precisamos para agradecer e suportar a vida.