COMENTÁRIO DO DIRETOR 

É Bom Te Conhecer' (N'sumande Tchalih Hudi) é um evocativo às criaturas elementares, às paisagens e às existências cósmicas intemporais. Numa tentativa de re-memorialização do passado pré-colonial em que a relação intergeracional entre os anciãos e os jovens ainda era um aspeto fulcral para a transmissão de conhecimento, vivências, mas sobretudo o imaginário coletivo alicerçado na mitologia fantástica. Em 'É Bom Te Conhecer' pretendo re-mitificar uma cosmovisão onírica centrada na figura feminina, nuclear e germinante do território africano. O estilismo gráfico na inserção das legendas (em português e  em inglês) tem como propósito evidenciar algumas palavras de força sobretudo devido à sua função simbólica mas também porque visualmente desloca o nível de escrita literária para um lugar mais performático que me interessa trabalhar. Se pensarmos que a escrita do texto do filme surgiu espontaneamente tendo-o gravado primeiro num quarto do meu apartamento no Rio de Janeiro e só depois tê-lo transcrito para o papel. Primeiro em crioulo de Guiné-Bissau, depois para inglês e só por último em português. Este é um filme captado ao longo de viagens realizadas entre Outubro e Dezembro de 2018. Sendo que as imagens foram registradas no Parque Natural de Itatiaia (Rio de Janeiro) e as últimas no Camp 41 na floresta amazônica. O filme tem também como missão provocar um desejo latente mas ao mesmo tempo distante, o desejo de reinventar a História da origem do mundo e a formação dos espaços, das temporalidades e dos seres existentes, numa imersão sob imagens inicialmente vívidas, mas que depois se vão diluindo quase que silenciosamente na imensidão verdejante amazónica. O lugar da reflexão e do prelúdio da Existência Humana é induzido pela elementaridade dos objetos, isto é, dos seres presentes na narrativa visual do filme.

CRÍTICA – Ana Júlia Silvino – Medium