DECLARAÇÃO DO DIRETOR

Para articular um filme que pudesse cumprir o propósito do desafio proposto pelo Francisco Frazão (Dir. Artístico TBA), no qual se pede uma abordagem artística que coloque em diálogo as atividades dos considerados “trabalhadores essenciais” e dos artistas em geral, cheguei à ideia de 'Mudança'. Desde Julho que retomei a possibilidade de viajar e fui para Marselha, lugar onde percebi que gostaria de vislumbrar a possibilidade de ver representada a voz mais proeminente da atualidade política nacional portuguesa, que justamente corresponde aos propósitos da agenda social-cívica desenvolvida pela cidadã e deputada Joacine Katar Moreira. Em Marselha, num mediterrânico clima temperado, típico do Verão, assisti ao reinício das atividades culturais, em que cautelosamente se pôde voltar a ver um aglomerado de pessoas a celebrar ali próximo ao bairro de Cours Julien. Esse aglomerado refletia uma ideia de coesão e co-habitabilidade social que eu continuo a achar essencial refletir na nossa sociedade atual portuguesa, e precisei de perceber qual a figura que mais tem representado esse sentimento. Assim, cheguei à conclusão que Joacine poderia ter o potencial de “trabalhadora essencial” de que precisava, e a ideia que me surgiu imediatamente foi a de propor à deputada decorar dois textos prosa-poesia escritos pelo meu pai, Paulo T. Bungué, originalmente publicados no seu livro 'Cabaró, Djito Tem!' (Lisboa, 1996). Em tempos de pandemia generalizada, questionando a preservação da democracia, a integridade da saúde pública e as nossas próprias noções de individualidade, vemo-nos arrastados por um processo de mudança já em curso. Como pensar um encontro entre um artista e uma deputada, que decidem questionar a essência dos seus ofícios? Em 'Mudança' o desafio é fazer com que o artista Welket Bungué e a política Joacine Katar Moreira, fazendo uso das suas capacidades de expressão e comunicação, que se possam questionar física e oralmente com base no entendimento daquilo que é a essência da arte da retórica e da arte da representação, respetivamente. O filme faz uso da projeção de pinturas originais criadas pelo artista plástico Nú Barreto, e tem ainda a musicalidade a cargo de Mû Mbana, ambos da Guiné-Bissau. 'Mudança' tem como proposta visual a plasticidade do texto interpretado, e da imagem digital projetada sobre os performers. A música e o conteúdo textual apelam ao dramatismo onírico de um território pensado a partir de sensações insulares, trazidas pelas referências ao povo do arquipélago Bijagó, na Guiné-Bissau. 'Mudança' é um filme-dança que dá continuidade à obra 'N'sumande Tchalih Hudi' (2019), um filme épico-narrativo criado por Welket Bungué, com imagens captadas na floresta amazônica e no Parque Natural de Itatiaia (Brasil).

MÁTERIA, Rodrigo Fonseca – Estadão 

MATÉRIA, Tiago Resende – Cinema Sétima Arte

MATÉRIA – João Carlos – Deustche Welle