O artista transdisciplinar lusófono Welket Bungué, da Guiné Bissau, é o convidado deste ano, com mostra especial dedicada à sua obra. 


No domingo, 11 de abril, às 17h, ocorre debate com o artista. Transmissão ao vivo pelo YouTube do festival

Foto: Kristin Bethge
Welket Bungué nasceu na Guiné-Bissau, em 1988, de etnia balanta e hoje reside em Berlim, trabalhando, no entanto, globalmente. É co-fundador da produtora KUSSA, faz locução para entidades internacionais, desenvolve Escrita Dramática, Argumento de Cinema, Performances e Teatro. É licenciado em Teatro no ramo de Atores (ESTC/Lisboa) e pós-graduado em Performance (UniRio/RJ), além de membro permanente da Academia Portuguesa de Cinema, desde 2015, e da Deutsche Filmakademie, desde 2020.

 

Welket Bungué é artista transdisciplinar, de etnia balanta. Considera-se de origem guineense-português, tendo nascido na Guiné-Bissau (região de Xitole) em 7 de fevereiro de 1988. Filho de Paulo T. Bungué, engenheiro florestal especializado na cultura do cajueiro, conhecedor exímio do território florestal guineense e filho de Segunda N'cabna, ex-militar e aposentada da Guarda Nacional Guineense. Teve como referência materna Mª de Fátima B. Alatrache, que exerceu funções muitos anos como professora na Guiné-Bissau. Filho de emigrantes, Welket iniciou a sua formação artística em 2005.

Atualmente, reside em Berlim, mas trabalha artisticamente em nível internacional. É co-fundador da produtora KUSSA, faz locução para entidades internacionais, desenvolve Escrita Dramática, Argumento de Cinema, Performances e Teatro. É licenciado em Teatro no ramo de Atores (ESTC/Lisboa) e pós-graduado em Performance (UniRio/RJ). É Membro Permanente da Academia Portuguesa de Cinema desde2015, e membro da Deutsche Filmakademie desde 2020. Desde 2016, trabalha regularmente com a companhia de teatro Mala Voadora (Portugal).

Em 2012 foi distinguido com “Prémio de Melhor Ator” pela sua interpretação em “Mütter”. Em 2019 produziu mais de seis curtas-metragens tais como “Intervenção Jah”, “É Bom Te Conhecer” ou “Corre Quem Pode, Dança quem Aguenta” e os seus filmes têm circulado internacionalmente por inúmeros festivais de cinema tais como o Africlap (França), Zanzibar Intl. Film Fest., Afrikamera (Berlim), IndieLisboa, DocLisboa, Fest. Intl. de Cinema do Rio de Janeiro ou o Stockholm Dansfilmfestival. Welket realizou os curtas-metragens “Eu Não Sou Pilatus” (2019), “Arriaga” (2019) e “Bastien” (2016) no qual foi distinguido com os prémios “Melhor Ator” e “Melhor Primeira Obra” nos prémios Shortcutz 2017 em Viseu e Ovar respetivamente. Ainda em 2019 foi distinguido com o prémio “Angela Award - On The Move” no Subtitle Festival em Kilkenny (Irlanda), dirigido por Richard Cook e Steve Cash.

Welket Bungué integrou o elenco de “Joaquim” (Comp. Intl. Berlinale 2017), de Marcelo Gomes, “Corpo Elétrico” (IFFR 2017), de Marcelo Caetano, “Kaminey”, de Vishaal Bahardwaj, “Cartas da Guerra” (Comp. Intl. Berlinale 2016), de Ivo M. Ferreira e protagoniza Franz Biberkopf em “Berlin Alexanderplatz” (Comp. Intl. Berlinale 2020), o novo filme do realizador afegão-alemão Burhan Qurbani, que lhe valeu uma indicação ao Urso de Prata e uma nomeação como “Melhor Ator Principal” nos prémios LOLA da Academia Alemã de Cinema (Deutscher Filmpreis).

Welket está a terminar a escrita do seu primeiro livro “Corpo Periférico”, um ensaioautobiográfico sobre a produção de cinema de autor com base no conceito homónimo de "cinema de autorrepresentação".


IMAGEM, CORPO, ALTRUÍSMO, DIÁLOGO

A beleza transdisciplinar da obra audiovisual de Welket Bungué

Acompanhamos o trabalho de Welket Bungué como realizador desde 2019, quando nos surpreendemos com dois filmes inscritos na Mostra Competitiva Brasil do Cine Esquema Novo: Intervenção Jah (dirigido por Daniel Santos, com performance de Bungué), e Corre Quem Pode, Dança Quem Aguenta (dirigido por Bungué, em mais uma colaboração com Santos).

Artista transdisciplinar, nascido na Guiné-Bissau e com residência entre Europa e Brasil, Bungué nos presenteava ali com obras de grande impacto. Seja marcado em performances realizadas em diálogo com a câmera - com a qual, aliás, ele tem uma relação de cumplicidade impressionante - ou através da intensidade dos seus textos. Nos deparamos com duas obras de resistência, de força, de poesia e de construção de um vocabulário próprio, que muitas vezes usa o corpo como ponto de partida.

Nascia o interesse de pesquisa sobre a trajetória deste artista, que apresenta um conjunto da obra tão próximo do hibridismo que o CEN busca, transitando entre diferentes formas do fazer artístico. Em dezembro de 2020, quando realizamos o Cine Esquema Novo - De Janelas Abertas e projetamos filmes em paredes pelas ruas de diversos países, lá estava novamente Welket na nossa programação. E agora, que chegamos ao 14º Cine Esquema Novo -  Arte Audiovisual Brasileira, teremos a oportunidade de trazer um maior número de obras deste artista que performa, dirige, escreve e produz, além de trabalhar com outras formas de expressão, a partir de diferentes países e com um ritmo intenso e acelerado nos últimos anos. 

E em toda a sua trajetória interdisciplinar, vemos um ponto crucial que emergiu como uma justificativa extra para o desenho desta mostra. Ainda mais do que o seu cinema de autorrepresentação; e ainda mais do que a sua expressão artística transversal do corpo periférico (com a qual ultrapassa a necessidade de representação destes corpos, para afirmá-los de uma forma absoluta e linda), o que mais impressiona na obra de Welket é uma abertura, uma predisposição a um diálogo essencial, espiritual entre os seres humanos. Algo que ultrapassa qualquer ignorância para permitir uma reconexão num plano superior. 

O trabalho de Welket pode ter denúncia e raiva, mas não traz consigo rancor ou vingança. O que ele traz, e conforme está escrito na introdução do livro que ele finaliza neste momento, é uma noção (de corpo periférico) que “começa justamente onde as terminologias sócio-culturais deixam de compreender a verdadeira natureza da diversidade social e cultural de um país, e tendenciosamente começam a projetar perfis ‘marginalizantes’ da sociedade civil e artística, reduzindo-os a modelos discriminatórios. Há que reconhecer que a construção pré-determinista desses perfis, promovem cisões estruturais que geram desconhecimentos entre os membros que compõem uma mesma sociedade e cultura”.

O altruísmo presente na expressão do trabalho de Welket Bungué emociona. Porque por maiores que sejam as camadas de preconceito, desconsideração, despertencimento, repertencimento, invisibilidade, transição e deslocamento que a sua vida e a sua obra misturem, é incrível perceber como o artista consegue manter a porta aberta, celebrar de uma forma singular as suas epifanias e, mesmo nos momentos mais duros, trazer a ideia de poesia e possibilidade como uma mensagem final. 

É a beleza e a soberania desta humanidade presente na sua arte que nos fez transformar esta relação com Welket Bungué numa mostra especial em 2021. Entre o registro, o manifesto, a ficção, o ensaio e a poesia visual e ainda a performance (apenas para encapsular o essencial), esta seleção de trabalhos realizados entre 2015 e 2020 quer apresentar a ainda mais pessoas este cérebro audiovisual efervescente. Que utiliza a sua trajetória geográfica e pessoal para super-amplificar o corpo performático. E para revisitar uma noção de identidade (neo)colonial que é difícil a qualquer brasileiro com senso crítico ficar indiferente. 

Alisson Avila, Gustavo Spolidoro, Jaqueline Beltrame, co-fundadores do CEN e curadores Mostra Artista Convidado Welket Bungué


WELKET BUNGUÉ NA WEB

KUSSA PRODUCTIONS

INSTAGRAM – @welket_bungue

FACEBOOK

YOUTUBE

IMDB PRO

SPOTLIGHT

 

FILMOGRAFIA COMO DIRETOR

Buôn (2015)
Mensagem (2016)
Bastien (2016)
Woodgreen (2017)
Vã Alma (web-série de 4 episódios - 2018)
Who They Are (2017 - 2019)
E Nada Fizemos (2019)
Arriaga (2019)
Eu Não Sou Pilatus (2019)
Intervenção Jah (2019)
Corre Quem Pode, Dança quem Aguenta (2019)
É Bom Te Conhecer (2019)// N'sumande Tchalih Hudi (título original, em língua balanta)
Ex Explorador Expropriador (2019)
Metalheart (2019)
Kau Berdi (2019)
Lisboa, Pódio de Quimeras Ou (Status Quo Ante Bellum) (2019)
Treino Periférico (2020)
Bustagate (2020)
Mudança (2020)
Cacheu Cuntum (2021)


WELKET BUNGUÉ NA IMPRENSA

ÁUDIO DE ENTREVISTA, Teresa Vieira – ANTENA 3

ÁUDIO 194 – Welket Bungué, No IndieLisboa, com o filme Arriaga – Rádio AfroLis 

 

ENTREVISTA, Jorge Pereira Rosa – C7nema

ENTREVISTA, Marta Lança – BUALA

ENTREVISTA – Rimas e Batidas

ENTREVISTA SOBRE “EU NÃO SOU PILATUS” E “INTERVENÇÃO JAH”, Marta Lança – BUALA

ENTREVISTA – BANTUMEN 

MATÉRIA, Rodrigo Nogueira – Ípsilon

ENTREVISTA SOBRE O CURTA-METRAGEM “ARRIAGA”, Cláudia Sobral – Jornal i online

ENTREVISTA, Yolanda Kiluanji – BUALA

REPORTAGEM, João Carlos – Deustsche Welle

MATÉRIA, Rodrigo Fonseca – C7nema

MATÉRIA – BANTUMEN

MATÉRIA, Sena Camará – O Democrata 

MATÉRIA SOBRE O ANGELA AWARD – ON THE MOVE, Wilds Gomes – BANTUMEN 

MATÉRIA SOBRE WELKET BUNGUÉ – Correio da Manhã 

MATÉRIA SOBRE WELKET BUNGUÉ – Hucilluc 


MATERIAL COMPLEMENTAR

 

CARTOGRAFIA DO TALENTO – OBS Lab 

 

CINE ÁFRICA CONVIDA O REALIZADOR WELKET BUNGUÉ 

 

 

ARTIGO CIENTÍFICO – "De corpos periféricos ao cinema de autorrepresentação" entrevista com Welket Bungué – REBECA - Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual 

RESUMO:

Nesta entrevista, o multiartista guineense-português Welket Bungué fala sobre afrodiásporas, trânsitos, novos espaços de poder, (neo)colonialismos, novas fronteiras físicas e culturais, corpos marginalizados e políticos, escolhas estéticas, perspectivas globalizantes e, claro, cinema. Chamam atenção os conceitos de autorrepresentação e corpos periféricos propostos pelo autor, relacionados com suas experiências nos diversos lugares por onde passou e morou (Guiné-Bissau, Portugal, Brasil, Cabo Verde, França, Alemanha). Welket propõe uma desconstrução da ideia de “periférico” e de “autorrepresentação”, indicando que o sujeito periférico tem a capacidade de transitar por diversos espaços e perceber diferentes perspectivas em um mesmo contexto; e a autorrepresentação como uma atitude cívica e artística diante do mundo.

Direitos autorais 2020 CC Ana Camila de Souza Esteves, Jusciele Conceição Almeida de Oliveira, Morgana Gama de Lima

 

SHOWREEL DE TRABALHOS COMO ATOR

 

 

 


 

OBRAS SELECIONADAS

Buôn

O primeiro curta-metragem escrito por Bungué em 2014. Buôn é uma exposição de pensamento, desejo de viajar e conhecer um mundo para além das paredes de uma cidade que nos encerra social, mental, física, psíquica, política e individualmente nos seus projetos, recantos e arquiteturas.

Bustagate

Outra obra inédita de Bungué no Brasil, com première nacional no CEN, Bustagate é um filme híbrido, que mistura textualidade e três narrativas visuais para contar e asfixiar o público, fingindo colocá-los no mesmo lugar que a nossa defraudada sociedade, personificada por Cláudia Simões, a nossa heroína sobrevivente na obra. O filme surge um ano depois do incidente do Bairro da Jamaica (zona da margem Sul de Lisboa). Através dos comentários do cidadão-artista, no papel de agente político em nome do Ministério Público português, Bungué faz o recorte de um panorama escandaloso e desajustado de violência e desigualdade social em Portugal.

cacheu Cuntum

"Mostre ao Mundo, com orgulho, a diferença de ser dominado e de ser livre. Aplique a riqueza da terra na terra. E ama ao teu irmão como a ti mesmo. Aliás, é o que justifica a chama da Revolução." - Paulo T. Bungué, in Cabaró, Djito Tem! (1996). Cacheu Cuntum, obra inédita no Brasil que terá estreia no CEN, traz para a tela a memória de um passado escravocrata, em contraste com aquilo que é a Guiné-Bissau de hoje. O título remete à cidade de Cacheu, considerada o primeiro porto de escoamento de pessoas escravizadas, levadas da costa ocidental da áfrica para o continente americano.

É bom te conhecer

Abó dançou muito para que fossemos criados e que os nomes das coisas tivessem um valor essencial. E mesmo que fossem usurpados, dominados, destruídos, trocados, nada poderia tirar-lhes o seu valor. Porque tudo havia sido fruto de um sonho que, noutro tempo e lugar desconhecidos, havia viajado até os sentidos de Abó. Até todos os seres serem nomeados para que pudessem ter valor pela sua natureza e não por aquilo que pudessem significar para os outros. É Bom Te Conhecer (N'sumande Tchalih Hudi) é um evocativo às criaturas elementares, às paisagens e às existências cósmicas intemporais. Numa tentativa de re-memorialização do passado pré-colonial em que a relação intergeracional entre os anciãos e os jovens ainda era um aspeto fulcral para a transmissão de conhecimento, vivências, mas sobretudo o imaginário coletivo alicerçado na mitologia fantástica. A obra é uma re-mitificação de uma cosmovisão onírica centrada na figura feminina, nuclear e germinante do território africano.

Mudança

Essencial é gerar vida, discurso, compreensão e celebrar a humanidade. Em tempos de pandemia generalizada, originando questões em torno da preservação da democracia, da integridade da saúde pública, e das nossas próprias noções de individualidade, vemos-nos arrastados num processo de mudança. Este é o encontro entre dois pares, o artista Welket Bungué e a deputada Joacine Katar Moreira questionam qual a essência dos seus ofícios, fazendo ressoar um inesperado paradigma de revolução iminente.

Treino Periférico

Dois artistas saem para treinar, não cabem nos padrões do seu bairro, da sua cidade, nem da sua cultura impostora. "Acredito que a vossa descrição tão sensível me remete à capacidade que temos,de nos desenvolvermos para nos mantermos vivos nesse território que nos foi ‘devolvido’ pelos colonizadores...", palavras do personagem Raça (Bruno Huca) ditas a Coragem (Isabél Zuaa). Este é um filme feito na periferia da "grande Lisboa" e discursa poética e assertivamente sobre ocupação territorial, pós-colonialismo e desigualdade social ainda vigente na cultura portuguesa.

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