Cine Esquema Novo 2006

2006

O CineEsquemaNovo é reconhecido pelo circuito brasileiro de festivais desde a sua edição de estreia, em 2003, por ter sido uma das primeiras mostras do País a derrubar a distinção formal entre cinema, vídeo e digital, promovendo novas mídias como formatos cinematográfico legítimos e autônomos. Todos os suportes imagináveis, do 35mm e suas variações até uma produção feita em um telefone celular, são aceitos em pé de igualdade. Sem o interesse de oferecer respostas definitivas sobre o futuro da imagem, o CEN apenas traz à tona uma realidade irrefreável: a possibilidade concreta de renovação da linguagem audiovisual proporcionada pela tecnologia. Graças a este viés, o festival apresenta novas maneiras de fazer cinema e de compreender o que pode ser chamado de cinema.

Para sua versão de 2006, o CineEsquemaNovo recebeu 814 curtas e médias e 26 longas-metragens para seleção, que resultaram em 87 filmes destacados para as três mostras competitivas (Curtas e Médias, Longas e Sala de aula). São criações vindas de 12 Estados da federação e cinco países (no caso produções de brasileiros no exterior). A seleção, assim como a exibição e a premiação do festival, parte da ideia de que interessa o talento e a técnica de quem cria o filme. Há abertura para que os autores expliquem e justifiquem os métodos de desenvolvimento de seus trabalhos sem nenhuma segregação. A SURPRESA, a EXPERIMENTAÇÃO, a CRIATIVIDADE e a INOVAÇÃO trazidas pelos curtas, médias e longas-metragens seguem sendo as palavras de ordem do festival, o que acontece desde a sua primeira edição em 2003. Aos filmes selecionados, somam-se os trabalhos pesquisados e convidados para as demais atividades do festival, totalizando 140 filmes em 83 sessões no CEN 2006. Toda esta programação se espalha por seis locais de exibição e também pelas ruas de Porto Alegre. O CineEsquemaNovo se esforça para aproximar o passado e o futuro, bem como a história e as perspectivas do audiovisual ao propor, simultaneamente, discussões sobre os novos formatos cinematográficos e homenagens a nomes fundamentais da produção e invenção brasileira na arte da imagem, como Rogério Sganzerla (em 2003) e Ruy Guerra (em 2004). Dentro disso, nos programas especiais de 2006, os destaques do CEN são as mostras “Cinema de Artista” e “Noutras Janelas”.

A acessibilidade democrática proporcionada pelos novos meios faz com que muitos criadores – que historicamente tinham seu principal meio de expressão nas artes plásticas, por exemplo – encontrem também no audiovisual uma forma de dar movimento ao seu trabalho. Esta é uma das premissas da Mostra Cinema de Artista, que apresenta trabalhos de nomes conhecidos da produção brasileira que, ao longo de suas trajetórias, também utilizaram o cinema para suas expressões artísticas. Não trata-se de “vídeo-arte”: o CEN vai oferecer ao público uma mostra informativa sobre o uso do vídeo e do cinema como ferramenta na construção de uma pesquisa em arte. Já a Mostra Noutras Janelas ajuda a completar o foco de questionamento sobre o cinema proposto pelo CineEsquemaNovo 2006. O artista Cao Guimarães, premiado com o melhor curta-metragem no CEN 2004 por “Da Janela do Meu Quarto”, vai veicular criações suas em espaços aleatórios da cidade, para provocar uma reflexão sobre como o espaço interfere na experiência do cinema. A programação do CEN, além destas duas atrações especiais e da Mostra de Curtas e Médias, Mostra de Longas e Mostra Sala de Aula (com trabalhos de cursos, oficinas, e universidades ligadas a cinema) se completa com as sessões não-competitivas da Mostra CineEsquemaNovo (com trabalhos de pessoas ligadas direta ou indiretamente ao festival); da Mostra para Escolas (uma seleção de curtas específica para o público infanto-juvenil); da Sessão Mostra do Filme Livre (em um devido reconhecimento ao “festival-irmão”do CEN que acontece no Rio de Janeiro); e, no último dia do festival, das quatro sessões com os filmes premiados. Além de todas as opções de filmes, o CEN 2006 também disponibiliza debates, após as sessões da Mostra de Curtas e Médias (na Usina do Gasômetro) e uma das sessões da Mostra Cinema de Artista, no Santander Cultural. Para completar, a Oficina de Crítica Cinematográfica, ministrada por Marcus Mello, vai gerar conhecimentos a todos os participantes, resenhas dos filmes dentro do nosso site (onde você encontra tudo o que acontece no festival) e ainda o Prêmio da Nova Crítica, um estímulo também a reflexão escrita do futuro do audiovisual. Com seus valores e conceitos cada vez mais amadurecidos, mas ao mesmo tempo aberto para a reinvenção a cada ano em sua estrutura, o CineEsquemaNovo coloca-se como uma realização com voz própria dentro do circuito brasileiro de festivais muitas vezes acomodado. Acomodação esta que, via de regra, pode corroer valores fundamentais de qualquer tipo de arte: a reflexão, a interpretação, a transformação e a revolução.

PROGRAMAÇÃO PARALELA CEN

Mostra Cinema de Artista: com curadoria de Luiz Roque, a Mostra Cinema de Artista exibiu nove filmes de Paulo Bruscky (“Arte Pare”, “Registros”, “Xeroperformance”, “Aépta”, “Composições nos fios – Partituras Mutantes”, “Arquitetura do Imaginário”, “Registros de Viagem”, “Amsterdam Erótica” e “Via-Crucis”); dois de Arthur Omar (“O Castelo Resiste” e “O Livro de Raul”) e filmes de Eryk Rocha e Tunga (“Medula”), Rivane Neuenschwander e Sérgio Neuenschwander (“Love Lettering”), Helmut Batista e Daniel Roesler (“Maria Farinha”), Brígida Baltar (“Casa de Abelha”) e Laércio Redondo (“I Don’t Love You Anymore”).

Mostra Noutras Janelas: projeção de imagens produzidas por Cao Guimarães, premiado com o melhor curta-metragem no CEN 2004 por “Da Janela do Meu Quarto”, em espaços aleatórios de Porto Alegre.

Mostra CineEsquemaNovo: exibição de 22 curtas que reúnem a produção da equipe que participa dos bastidores do Festival CineEsquemaNovo. Fizeram parte desta mostra “Os Olhos do Pianista”, de Frederico Pinto; “Hoje tem Felicidade”, de Lisiane Cohen; “Início do Fim”, de Gustavo Spolidoro; e “Projeto Vermelho”, de Luiz Roque, entre outros.

Sessão Mostra do Filme Livre: em parceria com a Mostra do Filme Livre, o CEN exibiu dez curtas na sala P.F. Gastal, na Usina do Gasômetro: “Landscape Theory”, de Roberto Bellini (MG); “Nada com Ninguém”, de Pedro Díaz (MG); “Quem Navega no Mar sempre Encontra um Lugar”, de Dellani Lima (MG); “Veluda”, de Ana Rieper (RJ); “Deu no Jornal”, de Yanko Del Pino (RJ); “Boato: uma autodefinitude”, do Grupo Boato (RJ); “Euclydes e Ana”, de Fernando Coimbra (SP); “Cinemação Curtametralha”, de Sérgio Péo (RJ); “Baiestorf, filmes de sangueira e mulher pelada”, de Christian Caselli (RJ); e “Tchau pai”, de Ricardo Machado (PR).

Mostra Sala de Aula: mostra competitiva (júri popular) com 26 trabalhos vindos de centros de ensino da imagem como ECA/USP e UFF/RJ, passando por cursos mais recentes como os da PUC/RS e a Academia Internacional de Cinema (SP e PR) e chegando nas atividades promovidas em bairros da periferia de grandes cidades, como as da Oficina Kinoforum.

Pré-Estreia: “Árido Movie”, longa-metragem de Lírio Ferreira (PE).

Oficina: Crítica Cinematográfica, com Marcus Mello (RS).

PREMIADOS JÚRI OFICIAL [Cao Guimarães (MG), Daniel Feix (RS), Paulo Bruscky (PE), Gabriela Motta (RS) e Rodrigo John (RS)]

Prêmio Especial do Júri

“Acossada”, de Karen Akerman e Karen Black (RJ/RS), captado em 16mm / Mini-DV (07′ 18”)

JUSTIFICATIVA JÚRI: Acossado pelas grifas e grifes o cinema grita. Currado no banheiro e na bilheteria o cinema greta. Homenagem a duas ou três coisas que eu sei dele, o cinema é grato. Livre na grota o cinema gruda.

Melhor Filme

“Man.Road.River”, de Marcellvs L (MG), captado em Mini-DV (09′ 27”

JUSTIFICATIVA JÚRI: Homem Estrada Rio. Bala. Cano. Corpo. Um tiro certeiro.

Melhor Direção

“Acossada”, de Karen Akerman e Karen Black (RJ/RS), captado em 16mm / Mini-DV (07′ 18”)

JUSTIFICATIVA JÚRI: A partir do flerte com um clássico, as Karens dirigem a si mesmas com humor e poesia, em um manifesto leve e despretensioso, mas não menos contundente.

Melhor Longa

“Fala, Mulher!” / Direção: Graciela Rodriguez & Kika Nicolela  (SP), captado em Mini-DV (80′ 00”) “Maravilhoso! As cores, a graça, a vida, a paixão e a tesão!” (comentário das fichas do público).

Melhor Experimentação em Animação

“02. Conjunto Residencial”, de Adams Carvalho e Olivia Brenga (SP), captado em Mini-DV e Foto Digital (05′ 00”)

JUSTIFICATIVA JÚRI: Pelo virtuosismo técnico camuflado na despretensão de traços e movimentos livres, em um cenário aparentemente banal, onde um novo mundo, desapercebido, cria vida.

Melhor Experimentação Fotográfica

“Terra de Gigantes”, de Eduardo Rennó e Alexandre Milagres (MG), captado em Super 8 / Mini-DV (04′ 15”)

JUSTIFICATIVA JÚRI: Em uma terra de gigantes as estrelas do palco são alçadas aos céus e amarradas por fios em tomadas de 220 volts. A vida é uma questão de ponto de vista.

Melhor Experimentação Sonora

“Entre Paredes”, de Eric Laurence (PE), captado em 35mm (15′ 00′)

JUSTIFICATIVA JÚRI:  Pela tradução do estado de perturbação do personagem, no emprego do som quase como um substituto dos diálogos e ações para a construção da linha dramática.

Melhor Edição / Montagem

“Vinil Verde”, de Kleber Mendonça Filho (PE), captado em 35mm / Animação 2D (16′ 00”)

JUSTIFICATIVA JÚRI: Um disco roda em tempo estático, embala o movimento apenas sugerido, a poucos quadros da animação.

Melhor Experimentação Visual / Direção de Arte

“O Ditado”, de Tomás Creus e Lavinia Chianello (RS / ITA), captado em Mini-DV / Animação Stop Motion (04′ 06”)

JUSTIFICATIVA JÚRI: As deformações dos bonecos encontram-se de acordo com o filtro da memória afetiva da personagem, em que a beleza e o horror se confundem.

Melhor Atuação

Hermila Guedes, em “Entre Paredes”, de Eric Laurence (PE), captado em 35mm (15′ 00′)

JUSTIFICATIVA JÚRI: Entre paredes, passos precisos, e uma presença capaz de instigar instintos cerceadores.

Melhor Figuraça

Kilmayr, personagem real de “Kilmayr”, de Márcio José Schenatto (RS), captado em Mini-DV (10′ 00”)

JUSTIFICATIVA JÚRI: Como diria Oscar Wilde: “Todos estamos na sarjeta, mas alguns olham para as estrelas”.

Melhor Grito “Bitola Cabeça Super 8”, de Gabriela Barreto e Vitória Araújo (BA), captado em Mini-DV + VHS + DVD (18′ 30”) e “Acossada”, de Karen Akerman e Karen Black (RJ/RS), captado em 16mm + Mini-DV (07′ 18”

JUSTIFICATIVA JÚRI: Num momento histórico em que é preciso criar espaços para se exibir um cinema que não o padrão, em que é preciso lembrar que cinema é arte, em que é preciso lutar pela liberdade de expressão, o grito mais retumbante é aquele que mostra que o cinema não pode se calar.

Melhor Ideia Original / Argumento

Rodrigo Almeida e Estevan Santos, por “Caixa Forte” (SP) captado em 16mm (03′ 39”)

JUSTIFICATIVA JÚRI: Seqüestrar a si mesmo. Um homem fugindo de si e do mundo. A realidade está na tela ou é apenas sua projeção?

Melhor Plano ou Cena

“Man.Road.River”, de Marcellvs L (MG), captado em Mini-DV (09′ 27”

JUSTIFICATIVA JÚRI: Pela maestria ao registrar acontecimentos não premeditados, sem deixar escapar a poesia de um cotidiano efêmero, em um plano que concentra o sentido de todo o filme.

Troféu CineEsquemaNovo (a cargo da equipe CineEsquemaNovo)

PAULO BRUSCKY

JUSTIFICATIVA JÚRI: Pela surpresa do encontro pessoal, pela espontaneidade e importância de sua obra, por sua longa, corajosa e livre trajetória, e pela emoção do debate, a equipe do Festival entrega o Troféu CineEsquemaNovo ao ‘bruxo-inventor’ Paulo Bruscky.

Prêmio da Nova Crítica (a cargo dos alunos da Oficina de Crítica Cinematográfica)

“Kilmayr”, de Marcio José Schenatto (RS), captado em Mini-DV (10′ 00”

JUSTIFICATIVA JÚRI: Por diferenciar-se dos documentários convencionais, apropriando-se de elementos da linguagem ficcional, fazendo uso de uma fotografia marcante e de uma narrativa vigorosa, que não abre mão do humor.

PRÊMIOS DO PÚBLICO

Melhor Filme

“Historietas Assombradas Para Crianças Mal-Criadas”, de Victor-Hugo Borges (SP), captado em Animação 3D / Foto Digital (16′ 00”)

Mostra Sala de Aula – Primeiro Lugar

“A Farsa do Acre”, de Guga Caldas (SP) / Faculdade: ECA-SP, captado em DV-CAM / MPEG (15′ 00”)

Mostra Sala de Aula – Segundo Lugar

“Toniolo”, de André Moraes e Caco Pacheco (RS), Faculdade: PUC/RS, captado em Mini-DV (21′ 52”)

Mostra Sala de Aula – Terceiro Lugar

“Veludo e Cacos-de-Vidro”, de Marco Martins (SC), Faculdade: UNISUL/SC, captado em Mini-DV / DV-CAM / Animação 2D (17′ 00”)

COMPARTILHE