Cine Esquema Novo 2003

2003

Que momento este: você chegou até aqui, recebeu uma cópia do catálogo, o abriu e começou a ler a introdução. Não dá pra esconder a alegria – por que esconder?

Temos de confessar que, no nosso imaginário, você já folheava estas páginas, se programava pra curtir tudo ao máximo, circulava nos locais de realização, trocava ideias e informações conosco e todo mundo, provocava aquela sensação de gente a procura de coisas boas… Foi em nome disso que viemos trabalhando! Por isso, com muita honra, saudamos você, entusiasta do cinema ou simples curioso, que com este gesto de aproximação passa a, singelamente, fazer história na primeira edição do ZoomCineEsquemaNovo – Festival de Cinema de Porto Alegre.

Você tem as 120 páginas deste catálogo, um site e uma semana de intensa programação pela frente para perceber, com seus próprios pontos de vista, a nossa proposta com o festival. Portanto, não espere aqui muitas explicações. Mas, o resumo da ópera, vale a pena citar, o ZCEN nasceu pouco mais de 2 anos atrás, concebido para exibir curtas e médias-metragens em vídeo, super-8, 16mm e 35mm. E a partir de qual parâmetro cinematográfico? Aquele que busca a surpresa: a imagem da montagem, da narrativa, da atuação, da proposta, da direção, da concepção… Some-se a isso o fato de que Porto Alegre faz e fala muito de cinema e não havia um festival na cidade. Bem, então por que não fazê-lo?

Falamos de surpresa ali em cima, e talvez esta seja a palavra-chave do festival, ao lado do “novo”. Porém, como debater o novo é entrar em uma espiral sem fim – e não estamos aqui pra definir o que é novo ou não nesse mar de pensamentos –, fiquemos então com a surpresa, que soma os pensamentos que procuram inovação e criatividade… E você já vai entender a origem do nome do festival, e porque não somos o “ZoomCineEsquemaSurpresa”…

Continuando. Por exemplo: sua namorada não é exatamente uma novidade para você, certo? Mas ela pode lhe surpreender. As ideias e atitudes de um amigo de longa data ou de sua família também podem surpreender. Até o seu chefe pode causar essa sensação interessante. Aterrissando para o objeto do festival, você também sabe o que é cinema, não trata-se de algo exatamente novo para o seu universo, mas isso não significa que ele deixe de lhe surpreender. Bem como isso não significa que você mesmo não possa fazer dele algo surpreendente – eis o ponto.

O festival só tornou-se realidade porque acreditamos na capacidade que todos têm de empreender coisas a partir de suas idéias, seja no cinema ou em qualquer outro campo – e, assim, causar surpresa. Buscar além da linha reta: ir para frente, para trás, para os lados, para cimas e para baixo em possibilidades 3D.

Você também pode fazer o seu filme, o seu vídeo, o seu festival, se é que já não o faz – e por que não? Muito provavelmente você sabe disso, e é por estas razões que veio marcar presença. Se você chegou até aqui “apenas” para o desfrute ou a fruição, perfeito – isso é igualmente uma parte essencial de um encontro dessa natureza. Os dois elementos se misturam na nossa celebração de sentir-se presente, que é o resultado deste festival e a proposta de buscar por um “cinema esquema novo”.

O jargão remete para o Cinema Novo, certo? Mas o nome do festival teve sua origem, na realidade, no mestre Jorge Ben. No seu eterno disco de estréia em 1963, Samba Esquema Novo, onde ele arrebatou a bossa nova para nela promover uma experiência musical indelével para a MPB. “Mas que nada, sai da minha frente que eu quero passar, pois o samba está animado, e eu quero é sambar… este samba que é misto de maracatu, com samba de preto velho, samba de pretu-tu…” Com licença, nós podemos e devemos passar também, do nosso jeito, animando a vida e misturando o que for preciso para que ela seja cada vez melhor para todos nós..

É isso que nos motiva, e a tantas outras pessoas também. No caso do ZoomCineEsquemaNovo, a mostra competitiva, as reprises, os debates, as oficinas, a programação descentralizada na Restinga, o ciclo de homenagem ao diretor Rogério Sganzerla (que completa em 2003 os 35 anos de sua obra maior, “O Bandido da Luz Vermelha”), a integração com o cinema de todo o país, a presença de realizadores de fora do Estado no festival, a agenda cultural, as 18 categorias diferenciadas de premiação (que supera os 35 mil reais em distinções, todas em serviços, para que mais filmes aconteçam), a orientação para tudo que seja gratuito, exceto os agitos noturnos… tudo isso nada mais é que uma maneira de transformar a bola de neve que é a nossa produção cultural em algo cada vez maior. Vamos passar!

Seja bem-vindo. Sinta-se em casa e aproveite!

CINEASTA HOMENAGEADO

Rogério Sganzerla

PROGRAMAÇÃO PARALELA CEN

Ciclo Rogério Sganzerla, com sessão comentada de “O Bandido da Luz Vermelha” com a participação do cineasta e a exibição dos filmes “A Linguagem de Welles” (1991), “A Mulher de Todos” (1969), “HQ” (1969), “Sem Essa, Aranha” (1970), “Documentário” (1966), “Swaldianas – Perigo Negro” (1992) e “Tudo é Brasil” (1997).

Sessões da meia-noite: exibição de filmes de Rogério Sganzerla, Joel Pizzini, Gustavo Jahn, Helena Ignez, Ana Luiza Azevedo e Alexandre Basso na sala P.F. Gastal, na Usina do Gasômetro.

Sessões para escolas: exibição de filmes selecionados para o CEN na Escola Lidovino Fanton, na Restinga Velha. De lá saíram os votos do Júri Popular.

OFICINAS

“Cinema Possível”, com Gilson Vargas (RS); “Cinema de Poesia”, com Joel Pizzini (SP); “Realização de Baixo Custo e Formação de Grupos de Trabalho”, com Frederico Cardoso (RJ) e “Iniciação à Montagem e Linguagem no Cinema Moderno”, com Rogério Sganzerla.

 

PREMIADOS

JÚRI DE COMPETIÇÃO: Elaine Tedesco, Helena Ignez, Joel Pizzini, Marcus Mello, Tiago Mata Machado

Melhor plano

ATRAVÉS, de Sérgio Borges (vídeo – MG)

Pela carga poética, transcendência e intensidade da cena de um garoto caminhando em uma estrada de terra, acompanhado de um cachorro e pelo seu sentido de valorização da vida.

Troféu Figuraça

Toni B., personagem real e principal de VULGO SACOPÃ, de Pedro Urano (Vídeo – RJ)

Pela importância na descoberta do personagem, pela sua lucidez e resistência.

Troféu Hardcore

DEMÔNIOS, de Christian Saghaard (35mm, SP)

Pelo mergulho radical no submundo urbano e seus personagens.

Troféu Grito

O ENGRAXATE, de Leonardo Duarte (16mm, RJ)

Pelo diálogo entre classes e também pelo diálogo entre ficção e realidade.

Troféu Arco-íris

RASGUE MINHA ROUPA, de Luffe Steffen (Super-8, SP)

Pelo despojamento, pelo caráter lúdico e bom-humor.

Troféu Sala de Aula

BATIZADO, de Eduardo Chalita (Vídeo, RJ)

Pelo literal mergulho no universo melodramático do personagem.

Troféu ZoomCineEsquemaNovo

A safra da nova geração de realizadores de Minas Gerais

Pela criatividade, inventividade, surpresa e experimentação, palavras que são o lema ZoomCineESquemaNovo.

Melhor Atuação

Paulo César Pereio, por PLANO-SEQUÊNCIA, de Patrícia Moran (35mm, SP)

Pela auto-ironia, despojamento e inteligência cênica.

Melhor Som

Para a equipe de DEMÔNIOS, de Christian Saghaard (35mm, SP)

Pela inventividade na criação de uma atmosfera opressiva e vertiginosa.

Melhor Direção de Arte

Arnaldo Duarte e Cláudio Oliveira, por O BLOQUEIO, de Cláudio Oliveira (35mm, MG)

Pela inteligência e engenhosidade na combinação de técnicas, gêneros e formatos.

Melhor Fotografia

Luis Carlos Saldanha, por PATUÁ, de Snir Wine (35mm, RJ)

Pela inspirada utilização da luz na ambientação do filme

Melhor Montagem

Luis Guimarães de Castro e Luelane Loiola Corrêa, por COMO SE MORRE NO CINEMA, de Luelane Loiola (35mm, RJ)

Pela utilização de material histórico, pesquisa e composição da imagem.

Melhor Diretor

Gilson Vargas, por À SOMBRA DO OUTRO (35mm, RS)

Pela ousadia, competência e inventividade, aliadas à economia de linguagem e precisão narrativa.

Troféu Animação

O BLOQUEIO, de Cláudio Oliveira (35mm, MG)

Pela precisa recriação do universo artístico do escritor Murilo Rubião.

Melhor Super-8

A TERRA DO SILÊNCIO, de Marco Scarassati (SP)

Pela articulação entre fotografia, sonoridade e pela superação dos limites técnicos do super-8.

Melhor Vídeo

O CHAMADO DA NATUREZA e PRÓLOGO/MONOLITO, ambos de Renato Heuser (RS)

Pelo senso de composição plástica, sensibilidade e simplicidade.

Melhor Filme ou Vídeo pelo Público da Restinga

LIBERDADE É APENAS UM DETALHE, de Pedro Bronz (RJ) com média de 8,9 pontos num total de 10.

Melhor 16mm

LILITH, de Marina Weiss (SP)

Pela síntese, estranheza e pela feliz tradução de um mito através de uma narrativa poética.

Melhor 35mm

À SOMBRA DO OUTRO, de Gilson Vargas (RS)

Pela inventiva construção da mis-en-cene do filme.

Troféu Paitrocínio

DES FANTASTIK SUCRIC, de Vitor-Hugo Borges (35mm, SP)

Pelo traço e pela delicadeza.

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