Cine Esquema Novo 2011

CineEsquemaNovo 2011

Festival de Cinema de Porto Alegre

Em 1972, o escritor mexicano e prêmio Nobel de Literatura Octavio Paz (1914-1998) fez uma série de conferências na Universidade de Harvard dedicada, essencialmente, à dupla e antagônica tentação que fascinava os poetas modernos: do romantismo alemão às crises das vanguardas. Em seu discurso havia uma profunda dedicação às contradições geradas entre tradição e ruptura, origem e originalidade, nostalgia e utopia, mito e história, religião e revolução, analogia e ironia, tradução e metáfora, a revolta do futuro, o ocaso da vanguarda... Tudo isso fazia parte de sua "brincadeira" dialética, sustentada por uma visão de mundo repleta de sincronias e descontinuidades simultâneas. Com isso, há quase 40 anos (!!!), Paz trazia à tona uma expressão crucial, que superou com folga sua análise restrita à poesia, para ilustrar um estado de espírito transversal e incontornável a todas as artes e expressões de hoje: a "tradição moderna".

Esta ambivalência, e visão paradoxal da modernidade, pertence tanto à análise quanto ao objeto, e mesmo ao raciocínio, do poeta e crítico mexicano. E encaixa-se como uma luva no CineEsquemaNovo 2011 - Festival de Cinema de Porto Alegre (CEN) no seguinte sentido: como manter-se fresco enquanto festival que promove o "novo", estando em uma sétima edição? Como não fazer de si mesmo, ou como aceitar e aprender a viver sendo, uma tradição moderna? Como administrar isso em dois níveis, o das obras que assim o são, e o do festival que assim as representa?

Há outras questões, vindas da análise literária de Octavio Paz, que encontram paralelo fácil em todas as artes e também no CEN 2011 - especialmente para nós, latino-americanos. Uma delas é a relativização do conceito de universalidade, o que durante séculos e séculos significou um pensamento circunscrito às tradições canonizadas do mundo europeu. "O poeta mexicano inseriu no concerto universal das vozes poéticas da modernidade as vozes excluídas do paradigma literário ocidental, sobretudo as advindas do universo híbrido das culturas latino-americanas, caracterizadas por ele como 'um prolongamento e uma transgressão' do que se define como 'Ocidente'" (MACIEL, Maria Esther, 1998).

Não haveria comparação mais direta, na nossa visão, para entender a construção do imaginário audiovisual dos dias de hoje, exibido em toda a sua força e diversidade no CEN 2011. O Festival de Cinema de Porto Alegre recebe e amplifica uma produção audiovisual independente, brasileira, latino-americana ou internacional que obriga a ordem estabelecida a ouvir novas vozes, criar novas unanimidades e exceções, relativizar padrões, subverter sistemas industriais de produção de imagens (confira o ensaio de Cezar Migliorin a seguir) e alterar raciocínios estabelecidos sobre o que é cinema, ou o que são artes visuais.

Não se trata de "nova geração", nem de "jovens realizadores", porque o filtro não é geracional ou demográfico; trata-se, sim, de visão de mundo. De uma produção que chega aos mesmos, e a outros lugares, por novos caminhos. E que ironicamente, na sua trajetória de legitimação acompanhada pelo CineEsquemaNovo desde 2003, cresce, amadurece e, de repente, se flagra ao passar rapidamente diante de um espelho enquanto derradeira "tradição moderna".

 

Buscar a renovação é da natureza humana. É da essência da sempre perfeita ordem natural. Então como ficamos nós, filmes, obras e festival, enquanto pseudo-baluartes da criatividade, experimentação, inovação e surpresa modernas, pós-modernas, contemporâneas, neobarrocas?

Para o CEN, o que importa é aceitar esta função-fim, este beco sem saída delicioso e confortável, que é a situação de pertencimento à tradição moderna enquanto festival dedicado a esta causa. Abrimos assim um sorriso ao nos confrontarmos com esta situação sarcástica: já é sim, uma tradição, ver as novidades em pesquisa de linguagem selecionadas todos os anos no CineEsquemaNovo. Muitos já o fizeram no passado; outros o farão no futuro; e hoje somos nós, e muitos outros pelo mundo, a fazê-lo no tempo presente.

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É isso que veremos, após o recebimento de mais de 900 trabalhos para seleção, na mostra de curtas e médias metragens, com 27 obras que escancaram o hibridismo de linguagens (e que, muitas vezes, não foram concebidas intencionalmente para as salas de cinema). E na mostra de longas, com 12 filmes que passeiam por propostas de gênero, formato e método de produção com todo tipo de matiz.

A cada edição, o trabalho de curadoria dos cinco sócios do CEN para as mostras competitivas, e para a programação como um todo, se aprofunda e evolui em sintonia com nossos princípios. As distâncias geográficas e cotidianas aumentaram, tornando o processo ainda mais desafiador, pois se na primeira edição em 2003 estávamos todos no sul do Brasil, hoje nos espalhamos entre a capital gaúcha, São Paulo, Belo Horizonte e Lisboa.

Depois de seis edições, rumo a esta sétima, o CEN assiste ao desenvolvimento das obras de realizadores e de um tipo de produção que, em outro momento, foi considerada “menor” pelo consciente coletivo de quem ainda se sente no papel de determinar o que é ou não cinema no Brasil. Porém, é justamente este cinema pós-industrial brasileiro o que mais vem sendo reconhecido, valorizado e premiado dentro e fora do País, em detrimento dos “grandes filmes” nacionais que em pouquíssimos casos têm encontrado eco junto às audiências para além da fronteira. E mesmo dentro...

Atualmente, a seleção do CineEsquemaNovo se baseia muito mais no grau de identificação de cada obra com a proposta essencial do festival: não há mais a necessidade de fazer do espaço de exibição, em si, a nossa função-fim, o que ainda era imperativo nas primeiras edições. Por conta desta dinâmica, vários filmes estética e artisticamente alinhados com edições passadas já não se identificam tanto com seus princípios hoje, por motivos diversos que vão desde o aumento do nível geral dos inscritos – sobretudo entre os longas-metragens – até a repetição de propostas que há alguns anos eram novidade e hoje soam mais a repetição do que a um caminho próprio.

Se é possível apontar uma característica geral da seleção do CEN em 2011 - com certeza, também reflexo do que se passa dentro de quem seleciona - seria o certo “peso” presente em grande parte dos filmes. Tanto no tratamento visual quanto nos temas ou personagens, são obras que exigem um tempo diferenciado de fruição, e demandam que o espectador dê algo em troca. São filmes "densos" pelos seus silêncios, pelas demoras, pelos longos planos e poucos cortes, que atribuem às obras um teor fortemente contemplativo e reflexivo. Exigem mais, ao mesmo tempo em que abrem mais possibilidades de apreciação.

Talvez seja possível falar de uma fase do cinema independente brasileiro marcada por um tom melancólico ou de ressaca, reflexo da própria insatisfação dos cineastas e artistas visuais com o cinema ou a percepção do cinema no Brasil, uma vez que na maior parte das vezes – quiçá mesmo em sua totalidade – as obras selecionadas para o CEN refletem o modo dos realizadores de estar no mundo. Alguns filmes deste ano apresentam uma tentativa de “tapa na cara”. Talvez seja apenas um sintoma do “amadurecimento” destes realizadores, no melhor sentido possível.

De qualquer forma, este é um cinema de proposta aberta e que traz muito mais perguntas do que respostas, inquieto e ensaístico em sua essência. São obras que indagam e questionam a si próprias, os seus anseios, objetivos e razões de ser – e que, ao não se preocuparem com amarras formais narrativas, ou formatos de captação e finalização, guardam um frescor que traz consigo um necessário sabor de insubordinação.

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Ao direcionar seu olhar a esta produção, o CEN se coloca como um espaço destinado não só à exibição de filmes, mas também (e tão importante quanto) ao pensamento e ao debate sobre assuntos que gravitam em torno de um tema único: o status da imagem na contemporaneidade - assunto colocado em cheque em diversos tipos de manifestações artísticas, algumas delas contempladas pelo festival.

Este “problema” é traduzido pelas mostras competitivas, que apresentam um cinema híbrido e dotado de fortes intersecções com as artes visuais, mas também pelas outras atividades que compõem a programação do CineEsquemaNovo em sua sétima edição. Será possível saber mais sobre todas estas atividades em textos e artigos a elas exclusivamente dedicadas ao longo deste catálogo, mas é obrigatório destacá-las desde já: juntas, e ao lado das mostras competitivas, elas compõem o verdadeiro mosaico que montamos para o festival em 2011.

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Uma delas dá continuidade ao nosso relacionamento com a produção audiovisual de fora do Brasil, projeto estimulado pelo CEN há algumas edições. Depois de longas convidados em 2008, e de mostras exclusivas de trabalhos estrangeiros (Zona Livre e Cine en Construcción) em 2009, o Panorama de Festivais Internacionais traz a Porto Alegre uma amostra de obras vindas de mais de 15 países, e que passaram por encontros congêneres ao CEN no que diz respeito à dedicação à produção audiovisual, às artes visuais e suas perguntas. Com curadoria de seus respectivos organizadores, ao lado dos sócios do CEN Ramiro Azevedo e Alisson Avila, o Panorama exibe programas especiais de cinco festivais: Transmediale e EMAF-European Media Art Festival (Alemanha); Temps D’Images Portugal; Semana de Cine Experimental de Madrid (Espanha) e BAFICI (Argentina).

Estes festivais firmaram parceria com o CEN para apresentar no Brasil alguns dos melhores filmes em curta-metragem exibidos em suas últimas edições, e entre os quase 40 trabalhos torna-se uma injustiça destacar nomes em especial. A título de informação, vale ressaltar entretanto a presença de “Silêncio”, de F.J. Ossang, premiado em Cannes; “The End of a Love Affair”, projeto de vídeo e performance co-dirigido por João Fiadeiro e Pedro Costa – este, um dos grandes nomes do cinema contemporâneo; “Curso de Silêncio”, de Miguel Gonçalves Mendes (diretor do documentário “José e Pilar”); ”Rip in Pieces America”, de Dominic Gagnon, uma coletânea de vídeos banidos da internet em função do seu conteúdo; e “After the Empire”, de Elodie Pong, uma sátira em que diversos personagens da cultura pop aparecem em espécies de esquetes trágicos, cômicos e absurdos. São alguns, entre muitos outros bons exemplos, que podem ser vistos na semana do festival e lidos na íntegra ao longo deste catálogo.

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Além de manter o diálogo com a produção estrangeira, entretanto, o CEN 2011 retoma práticas de anos anteriores que haviam ficado adormecidas, como a condução de obras visuais integrantes do festival para outras janelas de exibição além da sala de cinema. Se todos os anos esta convergência já acontece voltada para dentro do espaço fechado e escuro de projeção, 2011 é o ano do CEN retomar o uso extrapolado do cinema e das artes visuais em ambientes mais voláteis. Isso ocorre desde as intervenções em vídeo em pontos específicos de Porto Alegre nas semanas que antecederam o festival, curadas pelos integrantes do Atelier Subterrânea (um novo e efervescente parceiro do CineEsquemaNovo), até duas outras programações paralelas.

Uma delas é a videoinstalação "Expiração 02", de Pablo Lobato, e sediada na Subterrânea, que vem a Porto Alegre enquanto um desdobramento da exposição “O Que Pode a Expiração”, exibida em maio de 2010 no museu Inimá de Paula em Belo Horizonte.

Pablo Lobato está conectado ao CineEsquemaNovo desde sua primeira edição, em 2003, quando exibiu seu curta “Cerrar a porta em filme”. Mais adiante, em 2008, integrou o júri oficial de premiação do festival. No projeto que traz ao CEN 2011, apresenta monitores ligados à máquina Expiração, que rodam ininterruptamente vídeos produzidos a partir de imagens de arquivo nunca utilizadas antes e que também nunca foram reproduzidas. Ou seja, imagens das quais não existem cópias. Quando acionadas, no dia da abertura da exposição, as máquinas determinarão aleatoriamente o tempo de existência de cada vídeo por meio de um software desenvolvido especialmente para o projeto. Depois de determinado tempo, e até o momento final do festival em 30 de abril, as imagens vistas naquele momento único deixarão de existir, em uma inversão da lógica que atualmente guia as práticas industriais de produção, armazenamento e circulação de imagens: o projeto cria a possibilidade de estarmos diante de imagens e sons gravados que deixarão de existir, na contramão do excesso.

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A segunda programação especial dedicada a esta extrapolação visual é a exposição “Ficções”, com curadoria das sócias do CEN Jaqueline Beltrame e Morgana Rissinger, que ocupa a Galeria Lunara da Usina do Gasômetro. Após alguns anos fazendo a curadoria das mostras competitivas do festival, e assim tendo acesso a filmes de diretores que dialogam e transitam entre o circuito de festivais de cinema e exposições de artes visuais, a curadoria desta exposição mostra trabalhos de artistas que apresentem nas obras selecionadas uma forte carga ficcional – característica observada freqüentemente no cinema, mas que aqui possui origem na lógica semântica da arte visual.

Dentro desta perspectiva, o trabalho de pesquisa dedicou-se a buscar imagens, fotos ou vídeos que remetessem à criação de ficções, utilizando conceitos que comumente são desenvolvidos na prática cinematográfica: uma cena representada, um still de um filme imaginário, a criação de personagens e a relação entre eles, imagens de situações/fatos imaginários, etc. Foram escolhidos quatro artistas que têm em suas produções algumas obras que dialogam com estas possibilidades de ficção levadas em consideração por esta exposição. Sofia Borges (vive e trabalha em São Paulo e Ibiúna – SP), Cinthia Marcelle (vive e trabalha em Belo Horizonte – MG), Jonathas de Andrade (vive e trabalha em Recife – PE), e Alessandra Sanguinetti (vive e trabalha em Nova York – EUA) são os nomes convidados.

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Se todas as possibilidades da programação do CEN 2011 já lhe imergiram e confundiram em tradição moderna, seja convidado a completar-se com ainda mais atividades – e que, como em todas as outras edições do festival, também têm entrada gratuita e contam com o seu envolvimento.

O ciclo de seminários da sétima edição do CineEsquemaNovo segue a bem-sucedida mudança de 2009, onde os integrantes do júri proferem palestras diárias para estudantes, professores e público em geral. António Câmara Manuel (Portugal), Bruno Vianna (RJ), Júlia Rebouças (MG), Leo Felipe (RS), Roger Lerina (RS) e William Hinestrosa (SP) são os nomes por trás de cada um dos encontros. E, além de membros do júri e palestrantes, eles serão lembrados por acompanharem este ano uma mudança nas regras do festival: pela primeira vez, as mostras de longas e de curtas e médias-metragens têm júris distintos.

Esta novidade não altera a lógica dos seminários, onde todos terão liberdade para discorrer sobre assuntos como "Política, Cinema e Relações Humanas" (William Hinestrosa); "Diálogos Possíveis", a partir do acervo de Inhotim (Julia Rebouças); "Algumas Palavras sobre Irit Batsry", sobre o trabalho da prestigiada artista israelense e residente nos Estados Unidos (António Câmara Manuel); "O Fim do Cinema" (Bruno Vianna); "Search & Destroy - O Rock na Arte Contemporânea" (Leo Felipe); e "A Cinefilia ainda existe?" (Roger Lerina).

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Os debates também têm lugar cativo no festival, tanto em diversidade quanto em importância. O filme de abertura do CEN 2011 ("Os Residentes", de Tiago Mata Machado); os "diálogos possíveis" sobre a inserção de exposições de artes visuais no CineEsquemaNovo e os desdobramentos possíveis desta união; e as políticas públicas do setor audiovisual brasileiro, diante de uma lógica de produção pós-industrial (termo recentemente defendido pelo pesquisador e júri do CEN 2009, Cezar Migliorin) são recebem destaque próprio em nosso catálogo e programação. Isso, sem contar os tradicionais “debates e embates”, que sempre acontecem entre realizadores e público, imediatamente após as projeções das mostras competitivas.

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A Oficina de Crítica continua com espaço cativo na programação do CEN, e é feita pela primeira vez em parceria com a Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS). Parceiro do CEN de longa data, o programador da Sala P.F. Gastal, editor da revista Teorema e diretor-executivo da associação, Marcus Mello, é o responsável pela jornada que culmina com a escolha do Prêmio da Nova Crítica para Melhor Longa-metragem.

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Há ainda a Hora Extra, nos intervalos das sessões noturnas no lounge CEN, na Usina do Gasômetro, com outros trabalhos e formas de expressão dos realizadores e equipe do festival; a Rádio CEN, na happy hour do lounge do festival, com tracklists selecionadas pelos diretores convidados; os encontros de confraternização; as festas, pois é preciso celebrar; e, sobretudo, o sentimento de ‘zona autônoma temporária’ que toma conta daqueles que vivem intensamente esta semana, vindos de todos os lugares do Brasil e também do exterior.

Porto Alegre torna-se, a cada edição do festival, um ponto de encontro, um momento que reúne parte significativa da comunidade brasileira de realizadores independentes, sejam eles vindos de salas de cinema ou galerias de arte; de cineclubes ou fóruns online; de autorias solitárias ou coletivos criativos; de artesanatos analógicos ou interfaces tecnológicas.

Seja, como sempre, bem-vindo.

 

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS E MÉDIAS

846 Inscritos - 27 Selecionados

MOSTRA COMPETITIVA DE LONGAS

57 Inscritos - 12 Selecionados

PANORAMA DE FESTIVAIS INTERNACIONAIS

uma amostra de obras vindas de mais de 15 países, e que passaram por encontros congêneres ao CEN no que diz respeito à dedicação à produção audiovisual, às artes visuais e suas perguntas. O Panorama exibe programas especiais de cinco festivais: Transmediale e EMAF-European Media Art Festival (Alemanha); Temps D’Images Portugal; Semana de Cine Experimental de Madrid (Espanha) e BAFICI (Argentina).

EXPOSIÇÕES

•           Videoinstalação "Expiração 02", de Pablo Lobato, e sediada na Subterrânea, que vem a Porto Alegre enquanto um desdobramento da exposição “O Que Pode a Expiração”, exibida em maio de 2010 no museu Inimá de Paula em Belo Horizonte.

•           “Ficções”, a curadoria desta exposição mostra trabalhos de artistas que apresentem nas obras selecionadas uma forte carga ficcional – característica observada freqüentemente no cinema, mas que aqui possui origem na lógica semântica da arte visual. Dentro desta perspectiva, o trabalho de pesquisa dedicou-se a buscar imagens, fotos ou vídeos que remetessem à criação de ficções, utilizando conceitos que comumente são desenvolvidos na prática cinematográfica: uma cena representada, um still de um filme imaginário, a criação de personagens e a relação entre eles, imagens de situações/fatos imaginários, etc. Foram escolhidos quatro artistas que têm em suas produções algumas obras que dialogam com estas possibilidades de ficção levadas em consideração por esta exposição. Sofia Borges (vive e trabalha em São Paulo e Ibiúna – SP), Cinthia Marcelle (vive e trabalha em Belo Horizonte – MG), Jonathas de Andrade (vive e trabalha em Recife – PE), e Alessandra Sanguinetti (vive e trabalha em Nova York – EUA) são os nomes convidados.

LONGAS METRAGENS

(júri: Bruno Vianna, Júlia Rebouças e Roger Lerina)

Melhor filme: “Pacific”, de Marcelo Pedroso (PE)

Justificativa: Uma aposta arriscada: orquestrar uma polifonia de narrativas de personagens que não sabem que estão criando uma ficção de si mesmos. Ou sabem? Pacific mergulha na ambigüidade e emerge com um retrato múltiplo que propõe uma nova forma de documentário e, para além disso, trata os personagens com dignidade.

Prêmio especial do júri: “Álbum de Família”, de Wallace Nogueira (BA)

Justificativa: O mote evolui e amadurece no desenrolar do próprio filme. A utilização inteligente e sensível da luz e da montagem conduzem o espectador com interesse crescente pelo desenrolar da história. O desfecho roça perigosamente o sentimental, mas o tom crepuscular mantém até o fim a narrativa a palo seco.

Melhor direção: para Helena Ignez e Ícaro Martins, de “Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha” (SP)

Justificativa: O risco de novo: totem do cinema brasileiro, “O Bandido da Luz Vermelha” é revisitado com frescor e despudor graças à mise-en-scene afiada, que extrai do elenco uma atuação com sangue, ritmo e entrega.

Troféu melhor dispositivo: “Chantal Akerman, de Cá”, de Gustavo Beck e Leonardo Luiz Ferreira (RJ)

Justificativa: Opção estética que respeita e remete à personagem, o documentário expõe suas entranhas com franqueza ao espectador. Em vez de fragilizar-se, porém, o filme cresce ao incorporar suas insuficiências – e ecoa o próprio desvelamento de Chantal, humanamente imperfeita diante do dispositivo rigoroso.

CURTAS E MÉDIAS-METRAGENS

(júri: António Manuel Câmara, Leo Felipe e William Hinestrosa)

Melhor filme: “O Sarcófago”, de Daniel Lisboa (BA)

Muito mais que um registro sobre a atividade artística, “O Sarcófago” é uma imersão no universo enigmático de Jayme Fygura. Não há espaço para didatismo. Montagem expressiva, ritmo e matéria. Um filme sobre a arte.

Prêmios livres:

“As Corujas”, de Fred Benevides (CE)

Uma experiência audiovisual plena. As Corujas perturbam a morte e a literatura também está no jogo.

“My Way”, de Camilo Cavalcante (PE)

Tristeza e solidão como condutoras de uma narrativa que sai das ruas de um carnaval e atinge verdadeiros outros sentimentos. É bom quando o cinema faz tocar.

“Raimundo dos Queijos”, de Victor Furtado (CE)

O duplo olhar do espectador e da câmera constrói uma dialética com humor e leveza. Victor Furtado, diretor e personagem, nos mostra em Raimundo dos Queijos não somente um ambiente familiar urbano de domingo, mas sobretudo um retrato brasileiro.

Filme vencedor do prêmio da crítica: “Ex Isto” de Cao Guimarães (MG)

Pela reinvenção de uma obra literária na linguagem do cinema por meio de um projeto consistente em suas concepções narrativa e visual.

Melhor filme de longa metragem escolhido pelo júri popular: “Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha”, de Helena Ignez e Ícaro Martins (SP)

Melhor filme de curta ou média metragem escolhido pelo júri popular: “Céu, Inferno e Outras Partes do Corpo”, de Rodrigo John (RS).

Prêmio CineEsquemaNovo: filme “Os Residentes”, de Tiago Mata Machado.

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